Museu a três tempos em Ponta Delgada

O Carlos Machado é o único museu de Ponta Delgada e o mais antigo do arquipélago dos Açores, dividido em quatro grandes áreas: História Natural, Arte, Arte Sacra e Etnografia. «É um museu de vocação múltipla», explica João Paulo Constância, um dos responsáveis.

mas, além das áreas que o espólio do museu abrange, este é casa de inúmeras exposições temporárias, como a recente muros de abrigo, de ana vieira. a mostra homenageia os 70 anos da artista, com referências às suas memórias da infância em ponta delgada.

um contraste entre a contemporaneidade e a arte sacra, que tem sido a prioridade nos critérios definidores das exposições temporárias – que também se pautam pela divulgação do acervo próprio.

há cinco anos, o museu teve de repensar a actividade, ao ver a sede que é o principal e o maior edifício, encerrar para obras. é nesse espaço que ainda se encontram as reservas do museu que, de quando em quando, voltam a ver a luz do dia nas tais mostras temporárias. como é o caso dos 73 mil exemplares de história natural, que se exibiram no início do ano.

«foi um constrangimento que espicaçou a nossa imaginação», diz joão paulo constância. o encerramento obrigou a que a equipa procurasse soluções para manter o museu vivo e próximo da população, respeitando a sua missão: a inclusão. assim, foram desenvolvidas duas acções – o museu em sua casa ( em que foram distribuídas, com o açoriano oriental, 52 fichas sobre objectos emblemáticos do museu), e o museu móvel (uma carrinha que leva o museu a outros pontos da ilha). soluções para combater, também, o sentimento de insularidade. «estamos reduzidos a um universo de 150 mil habitantes da ilha, dispersos pela geografia. temos o que chamo de ‘complexo de ilhéu’, uma relação diferente com as dimensões».

a sede, actualmente encerrada, ocupa o grandioso edifício do convento de santo andré, abrigo de freiras clarissas desde 1930. à data da inauguração, em 1880, o museu ocupava o convento da graça, casa do liceu de ponta delgada, mas o crescimento do seu espólio obrigou à mudança. deve o seu nome a carlos machado, reitor do liceu e professor que reuniu, desde 1876, uma vasta colecção de história natural que, com os anos, foi sendo alargada a outras áreas.

em 2004, o museu cresceu para a igreja do colégio dos jesuítas, símbolo do barroco açoriano, uma igreja de nave única, em que a estrutura original foi mantida e é visitável. alberga, por exemplo, uma das obras mais emblemáticas: a coroação da virgem, de vasco pereira lusitano, uma obra de 1604, descoberta durante o restauro de uma outra criada por cima da pintura original.

já este ano, foi inaugurado o núcleo do recolhimento de santa bárbara, dedicado sobretudo a exposições temporárias e a reservas visitáveis. formas de compensar o encerramento da sede – que reabrirá dentro de dois a três anos.

raquel.carrilho@sol.pt

museu carlos machado – núcleo de arte sacra e núcleo de santa bárbara
ponta delgada

 3.ª a 6.ª, das 10hh às 12h30 e das 14h às 17h30
sáb. e dom. das 14h às 17h30