Museus batem recordes de visitas e Jerónimos são o campeão

O número de entradas nos museus, palácios e monumentos portugueses continua a aumentar. Só no primeiro semestre deste ano, já se contam mais de dois milhões de visitantes.

Quarta-feira, dez da manhã e um dia soalheiro em que o termómetro já roçava os 30 graus. Duas raparigas japonesas – uma de vestido rodado de tule digno de uma Barbie, outra de calções de ganga curtos –, abrigam-se à sombra de um chapéu de chuva, que aqui faz as vezes de chapéu de sol. São apenas duas das centenas de pessoas que esperam para entrar no Mosteiro dos Jerónimos: cada uma pagará 10 euros por um bilhete normal para visitar o monumento. A esta hora, a fila já contornava a fachada de cerca de 300 metros e dava a volta pela esquina mais próxima do portal sul da igreja. 

Este é, de longe, o local preferido dos visitantes. Segundo dados da Direção-Geral do Património Cultural (DGPC), 507.028 pessoas visitaram o mosteiro manuelino nos primeiros seis meses do ano, o que representa um aumento de 14,8% relativamente ao período homólogo de 2015. Ainda não há dados sobre julho e agosto, mas a julgar pela fila testemunhada pelo SOL, este é um valor que certamente irá aumentar até porque, neste momento, os Jerónimos canalizam cerca de um quarto do total de visitantes de todos os espaços culturais da DGPC. 
Uma tendência crescente de visitantes tem sido, aliás, uma regra quase inquebrável nos equipamentos culturais sob a tutela da DGPC. A Torre de Belém, quase ‘do outro lado lado da rua’. é o segundo monumento com mais entradas: 326.849 pessoas até ao fim de junho. 

Grão Vasco duplica visitantes

No primeiro semestre de 2016, mais de dois milhões de visitantes entraram pelos átrios, claustros e demais áreas dos espaços culturais da DGPC. Um número total que representa um acréscimo de quase 20%, em relação a 2015.

O ‘campeão’ em termos de crescimento é, no entanto, o museu Grão Vasco, em Viseu, que duplicou o número de visitantes, com mais 46.8% de entradas do que em período homólogo do ano anterior. Para além do museu Grão Vasco, há outros dois museus do país com uma variação positiva acima dos 30%: o Museu Nacional de Arqueologia e o dos Coches. Até ao final de junho, o novo Museu dos Coches recebeu mais 16.114 visitantes do que no ano passado. Este continua, de resto, a ser o museu com mais visitantes no país (197.193), seguido do Museu Nacional de Arte Antiga que contabiliza 103.636 entradas. Já o Museu Nacional de Arqueologia, colado aos Jerónimos, passou dos cerca de 53 mil para quase 70 mil visitantes. 

Para chegarmos ao terceiro lugar do pódio dos museus mais populares, temos que ir a Xabregas, também em Lisboa, até ao Museu do Azulejo, que já foi procurado por 77.670 pessoas este ano. Há exceções à regra do crescimento, embora sejam apenas duas: a Casa Museu Doutor Anastácio Gonçalves e o Museu Nacional do Traje registaram descidas entre os 5 e os 7%. Apesar do decréscimo, o museu do Traje não é, no entanto, o espaço museológico com menos visitas, cabendo os últimos lugares à CM Dr. A Gonçalves (5.610), seguida do Museu Nacional de Arte Popular (8.925 entradas) e o Museu Nacional da Música (9.010).

A crescer desde 2010

O número de entradas nos museus, palácios e monumentos dirigidos pela DGPC tem aumentado consecutivamente desde 2010, acompanhando assim o crescimento do turismo no país. E a curva continua em fase ascendente. 

Segundo dados do INE libertados esta semana e referentes ao mês de junho, o turismo cresceu de «forma expressiva». A hotelaria registou 1,9 milhões de hóspedes e 5,5 milhões de dormidas nesse mês, o que configura um crescimento de cerca de 10% em relação a períodos homólogos. 

Nos equipamentos culturais a situação é semelhante, dado que os números têm vindo a aumentar, de forma quase sempre contínua, cerca de 30% ao ano, desde 2010 e, especialmente, desde 2013. 

Há seis anos, o número total de visitantes dos monumentos, museus e palácios da DGPC fixava-se nos 3.017.777. Em 2014, já tinha subido mais de meio milhão e no ano passado houve 4.055.968 de pessoas que entraram nos espaços culturais. Um número cada vez mais positivo mas não estratosférico: por exemplo, só o Tate Modern, em Londres, recebe anualmente cinco milhões de pessoas (ver caixa), se bem que as dimensões das cidades são incomparáveis e, neste caso, o museu até é gratuito.

Ainda assim, é cada vez mais comum – especialmente nesta época de verão – haver filas à porta destes pontos de interesse turístico no país. Os números deste semestre, que inclui os meses fortes de julho e agosto – por excelência período de férias – , logo dirão, de forma inequívoca, se as filas têm razão.