Orquestra de sapos

Para os mais desatentos em questões climatéricas, diga-se que, na África subsaariana, Verão é sinónimo de chuva.

E, quando começa a cair, nunca se sabe quando acaba. Foi assim que no fim-de-semana passado fui surpreendido no bar onde estava. A chuva torrencial e a trovoada deitaram abaixo a energia. O bar ficou às escuras, possibilitando contemplar a magnífica estação de caminhos-de-ferro de Maputo, já que do outro lado um gerador conseguia fazer luz. Perante tanta incerteza climatérica, acabei por desistir de ir ver a actuação de Rui Vargas no festival Black Sensation.

No dia seguinte precisava de acordar cedo para ir até Bilene, uma zona de veraneio a cerca de 200 quilómetros de Maputo. Uma pousada assente na duna do lado do mar seria o abrigo para um fim-de-semana que se queria calmo, já que por aquelas bandas não há bares nem discotecas. Não sendo propriamente um Indiana Jones, aceitei atravessar as dunas para alcançar a praia que ficava a uma distância que parecia não ter fim. O rasto de cobras em quase todo o percurso também me alimentava já que não queria ficar para trás. Quando finalmente avistámos a praia, parecia que tinha viajado até Portugal e estava no Meco. Só que aqui não havia vivalma.

O regresso foi ainda mais penoso e pensei que a vida de aventureiro é boa para quem tem esse espírito. À noite, depois de jantar, fiquei pela esplanada do restaurante e tive então a possibilidade de ouvir uma das maiores orquestras da minha vida: milhares de sapos conseguiam abafar os woofers potentes dos carros que faziam de discoteca do outro lado do lago. É assim que muitos moçambicanos se divertem à noite. Uma aparelhagem potente instalada num carro dá fogo à peça. Quem não tem dinheiro é assim que se diverte. Munidos de cervejas ou de bebidas ‘caseiras’, os maputenses vão girando de carro em carro em busca da melhor aparelhagem ou música. Ao longo da Marginal ou próximo das discotecas caras, optam por fazer a sua festa de uma forma mais económica. É uma espécie de botellón à moçambicana. E acontece um pouco por todo o país.