Pacto de crescimento

França e Grécia: duas eleições, duas farpas na convalescente área do euro. Houve vencedores, mas não é claro quem ganhou ou se os resultados serão benéficos para a unidade e recuperação económica europeia.

é claro, contudo, quem foi derrotado: a alemanha e a política de ajustamento punitivo que impôs aos europeus.

depois de domingo, a palavra de ordem nos círculos do euro passará a ser ‘pacto de crescimento’. fez dele bandeira o sr. hollande, fala nele o sr. draghi e, pasme-se, admite-o a sra. merkel. um chavão que, contrastando com o ‘pacto orçamental’, pretende ganhar os corações dos povos atingidos pela austeridade e recessão.

infelizmente, ‘pacto de crescimento’ é pouco mais do que um chavão, com cujos objectivos é impossível discordar. na prática, existe muito pouco consenso sobre o modo de relançar o crescimento e a criação de emprego na europa. os socialistas franceses favorecem grandes investimentos públicos financiados por eurobonds e pelo banco europeu de investimento. em bruxelas pensa-se num novo plano marshall. a sra. merkel insiste na flexibilização do mercado de trabalho. os mais liberais avançam a necessidade de completar o mercado único de serviços.

boas e más ideias que, todavia, têm em comum o facto de apenas surtirem efeitos no médio ou longo prazo. mais tempo do que a união europeia pode dispor.

um ‘pacto de crescimento’ com possibilidade de surtir efeitos imediatos necessita de conter dois elementos: por um lado, admitir trajectórias de consolidação financeira mais suaves; por outro, combinar a desvalorização interna já em curso nos países deficitários com a valorização interna ( leia-se aumentos dos custos laborais) dos países com excedentes.

este tipo de pacto é improvável. mas, sem ele, a deriva para os extremos políticos continuará, ameaçando espoletar uma crise política que consumirá a união.