Palavrão de GNR não é crime

Tribunal da Relação de Lisboa iliba militar que mandou superior «prò c…». A fundamentação dos juízes é um autêntico tratado sobre a palavra proibida

segundo o diário de notícias, o caso remonta a agosto de 2009, quando o militar em causa reagiu com desagrado à recusa de um superior em permitir uma troca na escala de serviço: «não dá para trocar, então pró c…».

o oficial ofendido, um sargento, decidiu apresentar uma queixa-crime por insubordinação, e o ministério público quis levar o cabo a julgamento.

no entanto, o tribunal da relação de lisboa decidiu arquivar o caso. o desabafo do militar não é nennhum crime, mas apenas uma demonstração de «virilidade verbal», conta o dn.

os juízes desembargadores que fundamentaram o arquivamento explicam que «c… é palavra usada por alguns (muitos) para expressar, definir, explicar ou enfatizar toda uma gama de sentimentos humanos e diversos estados de ânimo. por exemplo, ‘pró c…’ é usado para representar algo excessivo. serve para referenciar realidades numéricas indefinidas (‘chove pra c…’; ‘o cristiano ronaldo joga pra c…’; ‘o ácaro é um animal pequeno pra c…’; esse filme é velho pra c…’)».

mais ainda, os juízes admitem que o palavrão funciona por vezes como «verdadeira muleta oratória», sobretudo «no norte de portugal», onde «não há nada a que não se possa juntar um ‘c…’». e ainda ensinam que há duas teorias para a origem de ‘c..’. ou vem do latim caraculo, que significa pequena estaca, ou é uma palavra genuinamente portuguesa, referente a mastro, muito utilizada na época dos descobrimentos.

já em 2009, a procuradoria distrital de lisboa tinha arquivado um caso semelhante. um agente da psp apresentou queixa contra um procurador que reagiu de forma exaltada durante uma operação stop: «eu não pago nada, apreenda-me tudo, c…!».

sol