Pastores admitem reduzir rebanhos por não terem dinheiro alimentação

A falta de chuva está a preocupar os pastores da Serra da Estrela, uma das regiões consideradas em seca severa, que admitem reduzir os rebanhos por não terem capacidade financeira para suportar a alimentação dos animais com fenos e rações.

dois pastores da aldeia de vila ruiva, concelho de fornos de algodres, contaram hoje à agência lusa que, devido à seca dos campos, os custos dispararam devido à compra da alimentação para os animais.

com 29 de anos, norberto pereira lamenta a falta de chuva que já levou o seu rebanho de 74 ovelhas a consumir o feno recolhido no verão e teve necessidade de comprar mais, já que os pastos estão «completamente secos» e não garantem o sustento dos animais.

nos campos «não há praticamente nada para o gado comer», o que obriga a custos acrescidos com a aquisição de fenos, rações e cereais. diariamente leva consigo um saco com centeio para alimentar as ovelhas à mão.

ainda tem alimento «para mais uns dias» mas «daqui por uma semana» tem que «comprar mais» e não sabe «onde arranjar dinheiro» para o investimento.

o desespero já é de tal ordem que admite a possibilidade de «vender metade» do rebanho por não conseguir aguentar as despesas.

outro pastor da mesma localidade, joaquim sousa, com 104 ovelhas, também não esconde o desânimo pela actual situação e pondera, igualmente, reduzir o efectivo animal.

o agricultor de 54 anos reclama ajudas do governo para a actual situação de «calamidade» que atinge o pastoreio da serra da estrela.

além dos encargos com a alimentação, apontou que devido à ausência de chuva, a sua despesa também aumentou com a utilização de água da rede pública para «matar a sede às ovelhas», gastando diariamente «duzentos litros».

o tempo seco ampliou as despesas e a produção de leite diminuiu «três a quatro litros por dia», bem como a sua qualidade, observou.

«a ministra [da agricultura] que olhe para a serra da estrela» onde «também há bons agricultores», disse o pastor enquanto o rebanho que apascentava na serra procurava algum alimento num solo completamente seco e sem erva.

não muito distante daquele local, o jovem norberto pereira, que diariamente conduz as ovelhas para o campo «para apanharem ar», munido do cajado e do tradicional cobertor de papa, deitava contas à vida e sonhava com o regresso da chuva.

o jovem pastor não se recorda de um inverno tão seco e «tão ruim» para a agricultura.

para além da diminuição da produção de leite, adiantou que os filhos das ovelhas «nascem fraquitos e alguns acabam por morrer», o que também representa uma grande perda de rendimento.

as preocupações dos dois pastores do concelho de fornos de algodres são sentidas por muitos outros da região demarcada de produção do queijo da serra da estrela, que abrange 18 concelhos dos distritos de guarda, viseu, coimbra e castelo branco.

lusa/sol