Paulo Almeida, um ‘bom vizinho’ doido por armas

O perfil traçado pelos vizinhos de Paulo Almeida, o assassino confesso de Alexandra Neno e de Diogo Ferreira, é o oposto do que revela na sua página pessoal do Facebook. O homem “calmo”, “educado”, que “não fazia vida de bairro”, era um apaixonado por armas e munições, sites de lutas, partilhava pornografia e aderia a…

no centro da bobadela, a vizinhança “nunca suspeitou de nada” e ainda não se refez do choque de ter um homicida no bairro. “quem é que ia imaginar uma coisa destas”, desabafa paula afonso, cabeleireira no prédio ao lado do apartamento, onde o segurança, de 35 anos, vivia com a mulher, a filha de seis anos e os enteados (dois rapazes). “via-o às vezes a passar com os miúdos, porque tratava o enteado como filho”, recorda, ainda perplexa com o caso que não a deixa dormir descansada: “era um homem que ajudava muito a mulher, se fosse preciso até a roupa estendia”.

paulo jorge almeida, que ao fim de cinco anos decidiu entregar-se à polícia, não era pessoa para andar na conversa pelos cafés. mesmo de baixa médica o segurança do intermarché de oeiras, que durante cinco anos escondeu a arma e as munições usadas nos crimes, raramente saía de casa. nem mesmo para beber café, que o enteado muitas vezes vinha buscar para lhe levar. “só o víamos de vez em quando, mas era sempre educado”, conta mário costa, dono do talho da rua. “a sogra dele esteve aqui no sábado. está muito abalada… nem quer acreditar”, acrescenta.

e o único episódio de agressividade que o bairro recorda – quando atirou mobília de casa da sogra pela janela – parece há muito esquecido. no prédio, para onde se mudou há um ano, é conhecido por ser bom vizinho. “víamo-lo pouco, mas uma vez até nos deu pão cozido a lenha, e nós dávamos chocolates aos meninos”, conta a vizinha da porta em frente da casa: “nunca tivemos barulho, nem ouvíamos as crianças que eram muito educadas”.

é filho único e passou infância na costa da caparica

mas no perfil do facebook a personalidade de paulo era muito diferente. há dezenas de posts com armas, espingardas e munições, com comentários esporádicos mas entusiastas, que revelam uma verdadeira paixão por armas. há filmes e jogos de combates, imagens de equipamento de guerra e vídeos de música caseiros ao som de heavy metal e deathcore (uma mistura de death metal, metalcore ou hardcore punk). há ainda várias referências a sites de encontros, fotografias e posts eróticos nas páginas da cronologia.

gostos desconhecidos no bairro, para onde paulo almeida se mudou há meia dúzia de anos. o segurança, que é filho único, vivia na costa da caparica. é lá que tem as raízes e os amigos que fez na secundária do monte da caparica. foi sofia, de quem teve uma filha há seis anos, que o trouxe para a bobadela, onde viveram com a sogra. mudaram-se depois mais para cima, para uma rua estreita ao lado do pequeno jardim onde se entregou à polícia na quinta-feira da semana passada, depois de ter confessado a autoria dos crimes ao 112.

a filha carolina teria um ano na altura em que o pai, que trabalhava como segurança no oeiras parque, tentou roubar o mercedes slk de alexandra neno, ali ao lado, em sacavém, acabando por matar a relações públicas de 34 anos com dois tiros. horas depois, tentou roubar, no parque do centro comercial oeiras parque, o carro do chefe, com quem tivera uma violenta discussão. foi descoberto por diogo ferreira, de 21 anos, que abateu com um tiro na cabeça.

a doença mental de que sofre e cujo tratamento terá interrompido na altura dos crimes, é a explicação apontada para os homicídios. na casa onde mora os estores brancos estão corridos, mas à frente da porta continuam os chapéus de chuva e estão arrumados os ténis da filha e dos enteados. “a sofia sai cedo”, justifica um vizinho. no fim-de-semana, a funcionária das limpezas terá ido visitar paulo almeida ao hospital prisão de caxias, onde vai ficar detido preventivamente até ao julgamento. depois regressou ao trabalho. “é mesmo assim”, remata paula afonso: “a vida não pára”.

joana.f.costa@sol.pt