Piolhos cada vez mais resistentes (Infografia)

São uma praga. Mal começa a escola, o medo toma de assalto os progenitores, assim que vislumbram as suas crianças a coçar as cabeças. Na maioria das vezes, o pior dos cenários confirma-se: infestação de piolhos. «No ano passado, quando a Maria foi para a escola pela primeira vez, passámos meses a fazer desparasitações. Este…

cada vez mais resistentes a champôs, loções e outros ‘milagres’ farmacêuticos, os parasitas parecem ganhar a guerra, ano após ano. «os piolhos da cabeça são altamente contagiosos», explica maria odete afonso, professora de entomologia, do instituto de higiene e medicina tropical. «basta que uma fêmea fecundada passe de uma cabeça para outra para começar a espiral». isto porque um piolho fêmea põe cinco a dez ovos por dia, o que significa que a infestação é bastante rápida. durante a sua curta vida, pode pôr 300 ovos.até se tornar adulto, um piolho passa por vários estádios: começa por ser uma lêndea, transforma-se em ninfa (passando por três estádios ninfais) e, finalmente, torna-se adulto, vivendo cerca de um mês.

mas como aparecem os piolhos? cientificamente chamados de pediculus humanus capitis, existem, pelo menos, desde que existe o ser humano. «estes insectos evoluíram com os diferentes hospedeiros vertebrados», comenta a entomologista. significa isto que os piolhos humanos não infestam outros animais e vice-versa. houve, ao longo dos tempos, uma ‘especialização’.

mesmo entre os piolhos humanos existem vários géneros e subespécies: além dos piolhos da cabeça, há pediculus humanus humanus, que se alojam nas fibras da roupa e parasitam o corpo; e phthirus pubis, que afectam a região púbica e perianal. são conhecidos por ‘chatos’.

mas voltemos aos piolhos da cabeça. será que há de facto uma maior incidência nos últimos anos? o dermatologista jorge cardoso, membro da sociedade portuguesa de dermatologia e veneorologia, confirma. «as epidemias por pediculus capitis têm períodos de maior latência e outros em que são mais intensas» – explica o médico, acrescentando que «os piolhos têm-se tornado progressivamente mais resistentes às terapêuticas clássicas».

as estatísticas confirmam as piores expectativas: só nos eua estima-se que haja todos os anos 12 milhões de novos casos.

«na maioria das situações, em crianças dos três aos doze anos, as infestações são mais frequentes nas raparigas, por usarem cabelo comprido», completa jorge cardoso. por outro lado, «há pessoas assintomáticas que podem ser consideradas portadoras. existem alguns indivíduos que são resistentes à infestação».

questão de saúde pública

esta é uma questão de saúde pública, salienta o médico: «pela morbilidade que condiciona (por vezes, há infecções relacionadas com as lesões do couro cabeludo) e também pelo absentismo escolar que origina, pois as crianças não devem voltar à escola senão quando estiverem tratadas».

esta premissa, no entanto, geralmente não é respeitada pelos estabelecimentos de ensino. «avisamos os pais, mas não impedimos as crianças de frequentar a escola», admite a directora de uma escola do ensino básico de lisboa.

então, como controlar a pediculose (infestação por piolhos)? ao contrário do que se pensa, ter pediculus humanus capitis não significa falta de higiene. «os piolhos ‘até gostam’ de cabelos limpos para mais facilmente se fixarem – quer os ovos, quer os adultos e ninfas», esclarece maria odete afonso.

estes ectoparasitas permanentes (por se manterem em contacto permanente com o hospedeiro) alimentam-se de sangue humano três a cinco vezes por dia. a comichão que assola o hospedeiro deve-se não só à picada, mas também à alergia à saliva inoculada pelo insecto. picada essa que, refira-se, apenas é benéfica para o piolho, nunca para o hospedeiro. daí que estes insectos «apenas abandonem voluntariamente a cabeça do homem em duas situações: perante temperaturas muito elevadas, que não suportam, ou em caso de morte do hospedeiro».

a solução é os funcionários das escolas e os progenitores estarem atentos aos sinais de coceira dos petizes. «as melhores formas de combater os piolhos são: ter o cabelo curto, utilizar tratamentos à base de malatião ou, eventualmente, ivermectina oral nos casos de resistência aos antiparasitários do grupo das permetrinas. além disso, deve tratar-se os contactantes» – esclarece jorge cardoso.

por outro lado, são de evitar os produtos à base de lindano, não só devido às resistências, mas também por razões ambientais. quanto a remédios caseiros, tais como a maionese ou o álcool, o médico é peremptório: «não são tratamentos adequados para esta patologia».

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sonia.balasteiro@sol.pt