Playboy. A mulher mais sexy do mês já foi um homem

A Alemanha surpreendeu o mundo das publicações masculinas: a protagonista da edição de janeiro da Playboy é Giuliana Farfalla, uma modelo transexual, que nasceu homem. Mas este não é um caso único

“Numa altura de conservadorismo e repressão, existia uma vontade de explorar algo diferente. Esse é o segredo por detrás do sucesso da ‘Playboy’”. Esta foi uma das frases que o norte-americano Hugh Hefner, fundador da revista masculina, usou para definir a publicação, durante uma entrevista ao jornal britânico “Telegraph”. Para celebrar a diferença, a publicação decidiu começar a apostar em novos modelos, cada com a sua identidade.

A versão alemã da publicação anunciou esta semana que a capa da edição de janeiro é protagonizada por Guiliana Farfalla. É provável que nunca tenha ouvido falar nesta pessoa, mas é um dos nomes que tem circulado mais na internet nos últimos dias. Isto porque Giuliana é a primeira transexual a aparecer na capa da revista masculina alemã.

Pascal Radermacher (o nome de Farfalla quando ainda era um rapaz) nasceu em 1996, no ducado de Brisgóvia, na Alemanha. Durante a sua participação no programa ‘Germany’s Next Top Model’, apresentado pela modelo Heidi Klum, a aspirante a manequim revelou que se submeteu a operações para mudar de sexo quando tinha 16 anos: “Quando era criança, sentia que vivia no corpo errado”, explicou na altura, reforçando o facto de se ter candidatado a este programa televisivo para incentivar outros transgéneros e transexuais a assumirem a sua verdadeira identidade e a não terem medo de se expor.

“Esta é uma mulher especial”, disse Florian Boitin, editor principal da versão alemã da Playboy, citado pela imprensa local. Com esta edição, o objetivo da revista é seguir a “tradição do fundador da Playboy, Hugh Hefner, que foi um defensor da liberdade de cada indivíduo, assumindo-se contra qualquer forma de exclusão ou intolerância”, acrescentou o responsável.

Para anunciar a novidade, Farfalla publicou uma simples frase na sua conta no Instagram: “Meus queridos, apareço na última capa da Playboy e estou muito orgulhosa do resultado. Espero que gostem da capa tanto quanto eu”. A edição de janeiro vai hoje para as bancas.

‘Não sabia que havia tantos transfóbicos’ Esta não é a primeira vez que a Playboy arrisca: em novembro do ano passado, a modelo francesa Ines Rau tornou-se o primeiro membro da comunidade transgénero e transexual a ser a protagonista de uma edição norte-americana da revista.

Rau nasceu em 1990, em Paris. Tinha 24 anos quando posou pela primeira vez nua, ao lado do modelo norte-americano Tyson Beckford para a OOB, uma publicação francesa. No ano seguinte, em 2014, o seu nome também apareceu na Playboy – o artigo onde surgiu chamava-se ‘Evolução’ e tinha como objetivo chamar atenção para a existência de outras identidades de género. Rau tornou-se a segunda manequim trans a aparecer na revista masculina, depois de, em 1981, a britânica Carolina Cossey ter posado para a publicação.

A revista já encara a identidade de género de outra forma e faz questão de enaltecer aqueles que querem ser vozes ativas na comunidade. “Ines Rau está muito ligada à filosofia da nossa revista. Elegê-la playmate era a decisão correta. Vivemos momentos em que as questões relacionadas com identidade de género estão a desenvolver-se”, explicou ao “New York Times” Cooper Hefner, filho do fundador da Playboy e atual diretor executivo da publicação.

No entanto, esta decisão da Playboy parece não ter agradado a muitos leitores: “Ser escolhida para aparecer na Playboy foi o melhor elogio que me podiam ter feito (…) Mas recebi muitos comentários maldosos. Não fazia ideia que havia tantos ‘transfóbicos’. Sabia que tínhamos um longo caminho a percorrer até chegar à meta – altura em que as mulheres trans serão encaradas apenas como mulheres –, mas nunca imaginei que ainda estivéssemos tão mal”, disse a manequim francesa na altura.

Itália no primeiro lugar A edição alemã deu agora um passo importante na forma como assuntos relacionados com o género são abordados nas revistas masculinas, a publicação norte-americana teve um grande impacto por ser a ‘mãe’ de todas as outras e aquela que mais leitores atrai, mas a edição italiana foi a primeira a dar o passo e a incluir uma mulher transexual na capa.

A atriz Vittoria Schisano foi a protagonista da edição de fevereiro de 2016, aos 32 anos. Nascida em Nápoles, em 1983, o nome de batismo de Vittoria era Giuseppe em Pomigliano D’Arco. A sua carreira nas artes performativas começou ainda como Giuseppe, mas em 2011, numa entrevista ao “Corriere della Sera”, revelou que ia começar um processo de mudança de sexo, assumindo-se assim como transexual.

Transexuais ou Transgéneros? Estes são todos casos de mulheres que usaram a Playboy para passar uma mensagem: todos têm direito a assumir a sua verdadeira identidade. Mas algumas notícias que surgiram referiam-se a estas modelos como transexuais, enquanto outros artigos descreviam-nas como transgéneros. Qual é a diferença?

De acordo com informação disponibilizada no site da International Society of Sexual Medicine, o termo transexual refere-se a uma pessoa que se submete a tratamentos e cirurgias para alterar o seu corpo e passar do sexo masculino para o feminino ou vice-versa. Já o nome transgénero é dado a quem altera a sua aparência e a forma como se vê e interage com os outros, sem realizar qualquer tipo de operação.

A própria associação explica que os termos variam consoante quem os usa: “Algumas pessoas defendem que a palavra transexual não deve ser associada a transformações físicas. Alguns transsexuais já não se referem a eles próprios como tal depois de se submeterem a cirurgias, preferindo optar pelos termos ‘homem’ e ‘mulher’. Além disso, as palavras também vão ganhando um novo significado com o passar do tempo e com as mudanças culturais que vão sendo implementadas. O que é considerado um comportamento tipicamente masculino ou feminino numa cultura pode ser visto como algo anormal noutra. E o que representava uma expressão de género há um século pode já não o ser hoje em dia”.

Segundo informação divulgada na internet (mas não confirmada pelas próprias), as três modelos submeteram-se a operações para mudarem de sexo. Mas os termos aqui pouco interessa: transgéneros ou transexuais, elas sentem-se, acima de tudo, mulheres.