Porsche. O homem pensa a obra nasce

Há 75 anos, Ferdinand Porsche construiu o automóvel dos seus sonhos porque não encontrou o desportivo perfeito. Ainda hoje, a marca continua a ser uma referência no mundo automóvel com modelos únicos e um palmarés na competição que nenhuma outra consegue igualar.

Frustrado por não encontrar um carro a seu gosto, Ferdinand Porsche (1875-1951) decidiu por mãos à obra e construiu o 356 ‘n.º 1′ Roadster, baseado no projeto do Volkswagen Carocha. “Procurei ao meu redor o automóvel dos meus sonhos, mas não o consegui encontrar. Por isso, decidi construí-lo eu mesmo”. Foi assim que começou a história da Porsche. Estávamos no verão de 1948, e o mundo dos carros desportivos nunca mais foi o mesmo.

Nos dois primeiros anos, os 356 foram produzidos numa antiga serralharia em Gmund, na Áustria. Em 1950, passou a ser produzido em Stuttgart-Zuffenhausen, que ainda hoje é a casa da Porsche. O primeiro protótipo de dois lugares tinha motor central e chassis tubular. Essa conceção foi abandonada devido à sua complexidade e elevados custos de produção, e o motor foi colocado sobre o eixo traseiro. Era bastante leve, pois tinha carroçaria em alumínio, ao invés do aço dos modelos produzidos posteriormente na Alemanha. O 356 tornou-se o carro preferido das estrelas como James Dean, Janis Joplin e Steve McQueen.

Em 1953, Ferdinand Porsche apurou o conceito de carro desportivo com o 550 Spyder. Este roadster foi desenvolvido para a competição, tinha motor central de 110 cv, atingia 240 km/h, e viria a conseguir inúmeras vitórias nas principais corridas da época.

A saga continuou nos anos 60 com o icónico Porsche 911, um coupé 2+2 lugares com motor 2.0 de seis cilindros boxer com 130 cv. O substituto do 356 foi apresentado em 1963 e era para ter recebido o nome 901. Mas a Peugeot tinha todos os nomes registados com o número zero no meio, incluindo o 901, daí terem mudado para 911. Esse registo era só válido para modelos de venda ao público, os carros de competição não eram abrangidos e, por isso, existem vários modelos com o número zero no meio. Apesar disso, em 1963, ainda foram vendidos alguns Porsche 901 de pré-produção. O 911 está em produção contínua desde 1963 e, em maio de 2017, saiu da linha de produção o exemplar um milhão em verde irlandês. Além de ser uma referência entre os carros de estrada, o 911 tem uma carreira de sucesso nas corridas desde as 24 Horas Le Mans até Mundial de ralis, passando pelo tenebroso Paris-Dakar.

Só para conhecedores

Para os puristas da Porsche, a sigla RS (RennSport) é sinónimo de elevadas performances e de uma dinâmica fora de série. O 2.7 Carrera RS foi apresentado no Salão de Paris em 1972, com detalhes específicos como o spoiler traseiro que ficou conhecido como ‘bico de pato’. Inicialmente, foram construídos 500 exemplares para homologação em Grupo 4 e os resultados foram impressionantes, venceu seis das 9 corridas do Campeonato Europeu de Turismo. É dos modelos Porsche mais valiosos, recentemente a RM Sotheby levou a leilão um 911 RS 2.7 por um valor de um milhão de euros.

Em 1975 foi lançado o 911 Turbo (série 930), com motor de seis cilindros boxer 3.0 de 265 cv, que atingia 246 km/h. O primeiro modelo sobrealimentado era um genuíno carro de corrida e ficou conhecido como ‘Widowmaker’ por ser difícil de conduzir devido à brutalidade do turbo KKK e à instabilidade da traseira, que quer ir embora a cada aceleração mais forte.

No ano seguinte foi lançado o 924, foi o primeiro Porsche com motor dianteiro e tração traseira, o que parecia contranatura numa marca que sempre produziu modelos de motor central ou traseiro.

Outro modelo de cortar a respiração foi o 959, era imbatível em asfalto e impressionou nas areias do deserto quando venceu o Paris-Dakar 1986. Concebido para homologação em Grupo B, categoria destinada aos míticos carros de ralis dos anos 80, este coupé de duas portas tinha carroçaria em kevlar e nomex, motor 2.8 de seis cilindros boxer com dois turbos, que debitava de 450 cv, sofisticado sistema de tração às quatro rodas, controlado por computador, suspensão ativa, jantes em magnésio e sistema de monitoramento da pressão do ar. Era uma maravilha da engenharia, quase ficção científica, e um dos carros mais evoluídos e velozes dos anos 80, atingia os 340 km/h e fazia menos de quatro segundo de 0 a 100 km/h. Foram produzidas apenas 292 unidades.

O espetacular 911 GT1, produzido em 1996, era um verdadeiro carro de corrida que podia andar na estrada. Tinha motor central de seis cilindros biturbo 3.2 com 610 cv que permite chegar aos 330 km/h e acelerar de 0 a 100 km/h em 3,9 segundos. Foram construídas 25 unidades do GT1 com um preço superior a um milhão de euros.

O Carrera GT era um “monstro” das estradas animado por um motor V10, que tinha sido desenvolvido em segredo para a equipa de Fórmula 1 Footwork. Esse projeto não avançou e o motor foi adaptado para o Carrera GT, com uma capacidade aumentada para 5.7 litros e 612 cv, que permitia atingir os 330 km/h e fazer 0 a 200 km/h em 10 segundos. Este superdesportivo de tração traseira tinha carroçaria em fibra de carbono, chassis em alumínio, embraiagem em cerâmica e travões de disco num compósito à base de carbono. O carro não tinha rádio, pois a marca alegou que o melhor som é o do motor V10. Foram produzidos 1270 exemplares deste desportivo de alto rendimento.

O Porsche 918 Spyder foi desenvolvido para demonstrar o potencial da tecnologia híbrida sem penalizar a eficácia e as performances. O primeiro supercarro híbrido da Porsche tem um V8 4.6 (608 cv) atmosférico e dois motores elétricos, a potência conjunta é de 886 cv e uma autonomia de 640 quilómetros e de 30 quilómetros em modo 100% elétrico.  As performances são dignas de um verdadeiro desportivo com uma velocidade máxima de 345 km/h e aceleração 0 a 100 km/ em 2,6 segundos.

Sempre a vencer

As corridas sempre fizeram parte do ADN da Porsche, que venceu em todas as categorias (Fórmula 1, Resistência, Ralis e Dakar). A Porsche pode gabar-se de ter conquistado, até final de 2022, mais de 24 mil corridas em todo o mundo, um feito que nenhuma outra marca conseguiu. O primeiro grande sucesso aconteceu nas 24 Horas Le Mans em 1951 com o triunfo do 356 SL na sua classe.

A Porsche derrotou os adversários na Fórmula 1 na era dos motores turbo. O motor 1.5 V6 Turbo, com 1000 cv, desenvolvido pela TAG-Porsche, permitiu à McLaren ganhar 25 corridas e dois campeonatos de construtores (1984 e 1985) e três campeonatos de pilotos com Niki Lauda e Alain Prost.

No Campeonato do Mundo de Resistência, foi campeã de construtores por 13 vezes e venceu 18 vezes as míticas 24 Horas Le Mans com modelos tão espetaculares quanto velozes, como o 917 K (600 cv), 935 K3 (720 cv), 956 (630 cv), o primeiro modelo de competição com chassis monocoque e efeito de solo, 962 (730 cv), 911 GTI (610 cv) e 919 Hybrid (900 cv). O 917 foi dos melhores carros de competição alguma vez produzidos. Tinha motor de 12 cilindros boxer com 600 cv, mas podia chegar aos 1000 cv!, e atingia os 340 km/h, com este potencial podia competir com os atuais Hypercars. Depois de dominar as principais corridas de pista, a Porsche deixou a sua marca no deserto ao vencer o Paris-Dakar 1984, com o 911 Carrera 4×4 de 480 cv, e o Dakar 1986 com o fabuloso 959 com 400 cv.


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