Proximidade

O 11 de Setembro é, antes de mais e para quase todos nós, uma imagem de televisão. Repetida e usada até à náusea, adquirindo assim valores vários – o icónico, por exemplo – mas inscrevendo-se fatalmente na História.

o 11 de setembro é, antes de mais, aquela imagem em directo de um segundo avião a ser engolido por uma segunda torre. e a circunstância de ter sido visto em directo muda tudo. muda a nossa relação com o acontecimento, altera a distância, torna tudo aquilo estranhamente próximo. a tragédia, de repente, pertence-nos também de alguma forma.

essa presença imediata das câmaras de televisão influi directamente na nossa percepção da história. amplia-a comparativamente com outros momentos históricos recentes de relevância comparável. é quase a máxima ‘se não passou na televisão é porque não aconteceu’ levada ao exagero – aqui, não só aconteceu, como aconteceu demasiado perto, numa cidade que o cinema e novamente a televisão nos convenceram ao longo dos anos que é ao virar da esquina. onde quer que estejamos.

o facto de a data poder ser isolada nessa imagem, e não num amontoado delas, reforça ainda mais o seu impacto. por alguma razão, o atentado de 11 de março não chocou o mundo da mesma forma e o recente massacre na noruega ninguém lembrará já em que dia ocorreu, para não falar das dezenas de outros actos de terrorismo que acontecem todos os anos por todo o mundo, mas que não têm uma câmara à frente nem são transmitidos em directo. a televisão, talvez o tenhamos percebido definitivamente há dez anos, deixou de ser mera espectadora da história. cada vez mais, faz parte dela e transforma-a aos nossos olhos. a ponto de já nos parecer fantasiosa quando não há um registo de vídeo a validá-la.