Punk: Dos Sex Pistols às Pussy Riot

Desde o lançamento de Good Save the Queen, dos Sex Pistols, durante o Jubileu de Prata de Isabel II em 1977, que o movimento punk não chamava tanta atenção de um país, como julgamento em curso das Pussy Riot na Rússia.

numa das raras entrevistas do grupo, publicada em fevereiro pelo ‘san petersburg time’ em inglês, as pussy riot afirmavam, nas suas respostas em grupo, estar na fronteira entre o punk rock e a arte contemporânea.

«a cultura contemporânea é caracterizada pela difusão, pela influência mútua e pelas interacções em diferentes direcções. é a intersecção que conduz à transgressão», disseram as jovens punk russas.

«é possível encontrar influências do actionism norte-americano dos anos 1990 nas nossas intervenções. o interveniente que toca de cara tapada é uma influência da arte conceptual e que ainda mantém a tradição de não se mostrar a cara», disseram referindo-se às máscaras e gorros de ski que utilizam nos concertos.

na mesma entrevista, as três russas falam ainda das influências da banda norte-americana bikini kill e o do movimento riot grrrl, apesar de apontarem diferenças musicais.

«o que nós temos em comum é a imprudência, as letras carregadas de temas políticos, a importância do discurso feminista, a mulher longe da imagem estereotipada», afirmaram.

o julgamento das pussy riot começou na segunda-feira e as três jovens incorrem numa pena que pode chegar aos sete anos de cadeia caso venham a ser consideradas culpadas de actos de vandalismo.

em fevereiro, nadezhda tolokonnikova, yekaterina samutsevic e maria alekhina subiram a um púlpito no interior da igreja de cristo salvador, em moscovo, e tocaram uma ‘oração punk’ contra o presidente vladimir putin.

o trio foi detido em março e acusado de actos de vandalismo e, apesar de muitas outras pessoas terem participado na actuação no interior do templo ortodoxo, apenas as três membros da banda foram presas.

«o acto foi uma tentativa desesperada de mudar o sistema político. não tivemos a intenção de insultar as pessoas. não esperávamos que o nosso aspecto punk pudesse ser ofensivo», comunicaram, através da advogada, no início do julgamento.

as pussy riot surgiram no outono de 2011, data da primeira actuação que decorreu no metropolitano de moscovo, onde tocaram o tema “osvobodi bruschatku” (“clear up the pavment” na tradução em inglês), acompanhado da projecção de fotografias e de imagens em movimento que mostravam estações de metro, tejadilhos de autocarros e eléctricos.

o primeiro concerto foi gravado em vídeo e difundido no dia 07 de novembro, aniversário da revolução russa de 1917.

de acordo com as três punks, o que levou à formação da banda foram os discursos de putin e de medvedev, a 25 de setembro do mesmo ano, em que anunciavam a troca de cargos nas eleições que iam decorrer no dia 04 de março de 2012.

a «jogada política» foi considerado como «roque ao rei», disseram as pussy riots, referindo-se ao movimento, no jogo de xadrez, em que a torre e o rei trocam de posições.

«nós não gostamos deste tipo de xadrez», disseram as três jovens da banda punk que, desde essa altura, começaram a actuar em lojas, desfiles de moda e também no terraço de uma garagem ao lado da prisão de moscovo, onde se encontravam detidos os participantes das manifestações contra as fraudes eleitorais.

«morte às prisões, liberdade ao protesto», foi um dos temas que tocaram antes da intervenção da polícia que não conseguiu prender as três raparigas.

os concertos em locais proibidos encontram algum paralelismo com a histórica actuação dos sex pistols, a bordo de uma embarcação alugada, que navegou no rio tamisa, em londres, para o lançamento do tema good save the queen, durante as bodas de prata da rainha isabel ii, em 1977.

«sobre os sex pistols pensamos que é estranho que o barco tenha sido alugado pela própria banda», disseram as russas.

«é difícil encontrar elementos de protesto quando se toca num barco alugado; pelo contrário, é uma espécie de actuação comercial. não há qualquer ligação com as pussy riot neste caso, porque nós não alugámos nada nem pensamos alugar nada. nós ocupamos outras plataformas, locais que não nos pertencem e que usamos sem pagar».

inicialmente os nomes das três raparigas eram desconhecidos porque apareciam de cara tapada com gorros de ski, e ocultaram a identidade, apesar de terem informado que tinham 25 anos e «conhecimentos em música, teatro, arte e alpinismo» e que uma delas trabalha «na indústria de electrónica».

lusa/sol