Racistas ao gosto de cada um e um Livre fechado

A telenovela do Livre, que tinha como protagonista Joacine Katar Moreira, foi digna das melhoras tramas da Globo, a campeã de dramas e histórias que agarram os espetadores ao ecrã. 

Neste caso, às notícias. À boa maneira bolchevique, as reuniões do partido prolongaram-se durante horas e horas. Só os dois últimos encontros totalizaram mais de 20 horas, tempo em que debateram detrás para a frente e de frente para trás as razões que determinaram a quebra de confiança na deputada eleita pelo partido. A conferência de imprensa do partido acabou por ser ternurenta, com o porta-voz a dizer que não podiam mais adormecer sem saberem o que iam descobrir quando acordassem. Isto é: quais as posições que Joacine iria defender e que podiam entrar em conflito com a ideologia do partido. Até certo ponto percebe-se os argumentos do porta-voz, mas tudo cheira a amadorismo e a partido totalitário. Percebe-se também que o Livre vai deixar de existir e vai voltar quase à clandestinidade a que estava votado, se excetuarmos o tempo de antena que Rui Tavares tem, e bem, na comunicação social.
 

Mal ou bem, Joacine representava o Livre, agora vai representar-se a si e àqueles que se reveem na suas dores e ideias. O suicídio do partido é um pouco incompreensível, já que homens como Ricardo Sá Fernandes tudo fizeram para colocar água na fervura. Veremos agora se Joacine será expulsa do partido – percebeu-se que a direção tem essa vontade, mas caberá ao conselho de jurisdição tomar essa decisão. 

O outro animador da vida política portuguesa é que continua em grande. As sondagens não páram de lhe dar mais votantes e nem as polémicas que acolhe o diminuem perante uma fação do eleitorado. André Ventura bem pode dizer que mandou Joacine voltar para a sua terra, depois de esta ter defendido a revisão do património histórico das ex-colónias, como mandaria um brasileiro da elite carioca que poucos acreditarão nele. Foi de mau gosto e os outros partidos perceberam que, se insistissem na discussão no Parlamento, só lhe dariam mais gás. Foram inteligentes e arrumaram o assunto. Assunto que não acabará para Ventura, pois este precisa de se alimentar de polémicas e a do património histórico que veio dos países de língua portuguesa ainda vai dar muito que falar.Calculo, aliás, que os franceses estejam preocupados com o tema, não vá Joacine defender que os gauleses têm de devolver a Portugal o que as tropas de Napoleão levaram cá do burgo…

Voltando ao oxigénio de André Ventura: o deputado do Chega anda distraído com o que se passa com a Polícia? Então a PSP encontra um carro roubado em Loures e é cercada pelos ‘mangas’ do bairro e bate em retirada e Ventura não faz um comício à frente do Ministério da Administração Interna? É que, ainda por cima, sabe-se que os polícias receberam ordens para voltarem para trás, já que não havia quem os pudesse ajudar. O carro, esse, acabou por ser incendiado e quando a Polícia o foi buscar de pouco serviu ao proprietário. Não é possível desassociar esta medida com a história do agente que é acusado de ter agredido uma angolana na zona da Amadora, obrigando a Polícia a uma retirada estratégica por causa da opinião pública. Opinião pública que não se manifestou nem falou em racismo quando o motorista do autocarro que tinha denunciado a angolana foi também selvaticamente agredido. É óbvio que a extrema-esquerda está muito próxima de Ventura, só que em campos antagónicos. Para uns há racismo contra negros e ciganos, para outros o que existe é contra os brancos. Ambos podiam arranjar outra bandeira, que essa é muito escorregadia e alimenta-se com muita facilidade.Parvos com ideias racistas há em todo o lado. Se os juntarmos começam a parecer uma multidão.
vitor.rainho@sol.pt