Revelações de alcova

Diz o adágio popular que a vingança se serve fria. Mas Valérie Trierweiler serviu-a bem quente. Ainda um ano não se cumpriu desde que os tablóides franceses (e até os jornais de referência) deram conta, em Janeiro, da relação entre François Hollande e Julie Gayet, depois de fotografarem o Presidente a escapulir-se de mota do…

Revelações de alcova

Mas este estado pouco durou. A tristeza rapidamente deu lugar à fúria e Válerie começou a escrever. Agora, nove meses depois, acaba de publicar ‘Merci pour ce Moment’ (‘Obrigada por este Momento’), livro que está a gerar uma imensa polémica em França. É que, ao longo das suas três centenas de páginas, a jornalista não só derrama amargura, tentando dar a conhecer aos leitores o 'verdadeiro' Hollande, o socialista que, diz, se refere aos pobres como os desdentados, como narra episódios da vida íntima do casal, como o da sua separação. “As notícias sobre Julie Gayet eram manchete nos noticiários da manhã… Fui-me abaixo. Não as conseguia ouvir. Corri para a casa de banho. Agarrei num pequeno saco de plástico com comprimidos para dormir”, escreve. “O François seguiu-me. Tentou tirar-me o saco. Corri para o quarto. Ele agarrou o saco que se rebentou. Os comprimidos espalharam-se pela cama e pelo chão. Consegui recuperar alguns. Engoli o que consegui. Queria dormir. Não queria viver as horas que se iriam seguir. Percebi a tempestade que ia rebentar sobre mim e não tinha forças para a enfrentar. Perdi a consciência”.

Misto de vingança e forma de adquirir, em poucos meses de trabalho, elevados rendimentos (a primeira edição, feita totalmente em segredo, contou com uma edição de 200 mil exemplares) o livro não está a favorecer ninguém. Válerie tem sido alvo de críticas, da direita à esquerda (até Marine Le Pen declarou o livro uma desonra para o país), tendo sido acusada de traição. Hollande, cuja popularidade estava já nas ruas da amargura, vê-se agora retratado como o Presidente que goza com os pobres. O Partido Socialista também não sai incólume. E o Eliseu é cada vez mais visto como um palco de dramas entre lençóis.

 Aliás, o jornalista Renaud Dély, que classificou o livro de Trierweiler como repugnante, resumiu bem no Le Nouvel Observateur o estado de alma de grande parte do país: que o livro tinha sido um ataque à democracia. “Para manter um mínimo de dignidade no debate público, os cidadãos têm que exigir o direito de não saber o que se passa no quarto do Presidente. Arrastando-nos para lá, fazendo um desvio pelo quarto de banho do Eliseu, Valérie Trierwieler atacou esse direito”, escreveu.

Também muitos livreiros assumiram o seu desagrado, tendo-se recusado a vender esta galinha dos ovos de ouro (por mais que se diga que é lastimável, o livro já esgotou a sua primeira edição), colocando cartazes nas portas dizendo que não têm vocação para ser o caixote de lixo de Trierweiler e Hollande. Nada que assuste a ex-primeira dama. Disse tudo o que queria. E ainda vai ganhar milhares de euros. O escândalo de cama compensou.

rita.s.freire@sol.pt