Sereias. A moda de verão que já levou as autoridades a emitirem um alerta

Vários brasileiros já morreram afogados devido ao uso de caudas de sereia. Moda surgiu a partir de uma telenovela na qual uma das personagens tinha um fascínio por estes seres

O frio e a chuva têm feito muitos estragos na Europa e na América do Norte: a tempestade Eleanor já fez vários mortos e feridos em Espanha, França e Inglaterra. Em Portugal, o mau tempo levou a Direção-Geral da Saúde a alertar para as descidas de temperatura durante o fim de semana passado e a deixar várias recomendações à população. No entanto, o tempo quente já chegou a outras partes do mundo e com ele vieram as modas de praia. Se no verão passado as praias portuguesas estavam cheias de fatos de banho com ananases e boias em forma de flamingo, no Brasil, a tendência são as caudas de sereia. Mas esta moda esconde vários perigos e até já levou as autoridades a lançarem um alerta.

Tudo começou com a telenovela “A Força do Querer”, transmitida em Portugal na SIC. Uma das protagonistas, Ritinha (interpretada por Isís Valverde), tem um fascínio por sereias e pela forma como estas conseguem dominar os homens. Esta personagem tornou-se uma das mais faladas no Brasil, e a moda das caudas de sereia – usadas na telenovela – a nova tendência nas praias.

Florescentes, com purpurinas, mais ou menos vistosas, todas as meninas e mulheres queriam exibir a sua nova cauda no areal. Foi até criado o termo “sereismo”, um estilo em que as peças de roupa, os acessórios e até a decoração da casa se inspiram no universo das sereias. Mas nem tudo é cor-de-rosa: se, por cá, os flamingos e os ananases eram inofensivos, os brasileiros veem-se a braços com um novo problema de segurança – segundo o Instituto Nacional de Meteorologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), estas máscaras já estiveram na origem de casos de afogamento. A sua forma limita o uso dos membros inferiores, o que faz com que, em caso de aflição, a pessoa tenha dificuldades em nadar e combater a corrente ou as ondas.

Por isso, o Inmetro lançou uma campanha que alerta para o risco de morte provocado pelo uso das caudas de sereia. “Estudos realizados pelo Instituto apontaram, em todos os cenários considerados, para o risco grave associado à cauda de sereia, destacando o facto de o seu uso poder levar ao afogamento e à morte. Para discutir o tema, o Inmetro criou ainda uma comissão técnica formada pela Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático (Sobrasa), a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e a ONG Criança Segura Safe Kids Brasil”, lê-se no artigo publicado, no passado dia 28 de dezembro, no site do instituto brasileiro.

“Por vezes, no ambiente de piscina, as pessoas tendem a relaxar e a ficar de-satentas. Mas quando as crianças estão na água, a observação de um adulto é imprescindível. O responsável deve estar a até um braço de distância, a fim de que se evitem acidentes”, afirma o diretor de avaliação da conformidade do instituto, Luiz Antônio Lourenço Marques.

Com o verão ainda no auge, as autoridades temem que o número de mortos provocados por esta moda venha a aumentar. Assim, ao longo desta campanha, os institutos competentes irão publicar material informativo nos sites oficiais e nas respetivas redes sociais, por forma a alertar cada vez mais pessoas.

Regras de segurança Pode parecer estranho para os leitores portugueses, mas existem muitos “sereios” e sereias profissionais no Brasil. São pessoas que se dedicam a divulgar o culto destes seres imaginários e a exibir manobras fantásticas no mar. Estes profissionais são os primeiros a alertar para os perigos do uso inconsciente das caudas de sereia.

“O adulto que não sabe nadar não pode usar [estas caudas]. A perna fica presa e a nadadeira é que ajuda a dar impulso para nadar. Para além disso, uma criança nunca pode ser deixada sozinha. Só quem é sereio ou sereia profissional consegue peitar o mar com uma cauda. Não é para qualquer um”, disse ao “Globo” Davi Sereio, um profissional desta área.

Thais Picci, professora de sereismo em Brasília, explicou à mesma publicação que é necessário algum treino para começar a dominar a cauda e aprender a nadar com a mesma. A instrutora diz também que é importante prestar atenção ao material usado no fabrico da peça. “[As caudas de silicone] são mais pesadas. Quem quiser praticar o sereismo tem que saber nadar e bem”, explicou.

17 mortes por dia Segundo dados publicados no final do ano passado no site do Inmetro, 17 brasileiros morrem afogados todos os dias.

Para além disso, o afogamento é a segunda causa de morte nas crianças com idades compreendidas entre um e nove anos. Dos afogamentos registados em piscinas, 51 por cento das vítimas eram crianças que se inseriam nesta faixa etária.

Até ao dia 1 de dezembro tinham sido registadas em Portugal 112 mortes por afogamento, revelou Alexandre Tadeia, presidente do Observatório do Afogamento, criado pela Federação Portuguesa de Nadadores-Salvadores.