Simba. Julgamento do caso do cão baleado está em fase final

José Diogo Castiço, dono de Simba, diz que ainda não consegue explicar o fenómeno gerado com a morte do animal. E acredita que se vai fazer justiça

Na próxima quarta-feira, o processo que opõe os donos de Simba, José Diogo Castiço, 37 anos, e Andreia Mira, 36, ao vizinho que atirou sobre o cão no ano passado, na aldeia de Monsanto, entra em fase de alegações finais. Curiosamente, a data quase coincide com o dia da morte do animal, a 7 de março. O julgamento decorre no Tribunal de Idanha-a-Nova desde 21 de janeiro.

Que os maus-tratos animais continuam a existir – apesar de serem criminalizados por lei – é um facto. Mas nunca, até Simba ter sido morto, um caso destes tinha tido uma repercussão tão forte, primeiro nas redes sociais e posteriormente nos meios de comunicação. 

A agitação deveu-se, além do ato em si, a um post escrito por Diogo no dia a seguir à morte do cão da raça leão-da-rodésia que acompanhava a família há cinco anos. A mensagem, partilhada na página do Facebook “Monsanto a Cavalo”, foi intitulada “Mataram o meu melhor amigo”. Aí, Diogo Castiço relatava o episódio da morte do cão, assim como a importância que o mesmo tinha para os donos. O texto foi partilhado por mais de 45 mil pessoas e foram deixados cerca de quatro mil comentários de apoio ao casal. “Nunca esperei que gerasse este fenómeno, até porque nunca foi um objetivo.” A verdade é que Simba foi adotado como um símbolo da crueldade contra os animais e a sua história tornou-se um “gigante mediático”.

“Para mim tornou-se um mistério e uma surpresa, porque a minha página ‘Monsanto a Cavalo’, durante quatro anos, tinha pouco mais de dois mil seguidores.” Depois de ter partilhado a ocorrência – o facto de o animal ter sido “crivado de chumbo de uma arma de 9 milímetros”, causa de morte posteriormente confirmada na necropsia, por um vizinho que até mantinha relações amigáveis com o casal –, a história de Simba tornou-se viral. “Em termos práticos, não sei o que passou. Só sei que o nosso desejo mais profundo era que a dor e a energia negativa se tornassem algo bom e positivo.”
Por outro lado, Diogo diz que o modo emotivo como se expressou nas redes sociais poderá ser outra das razões. “A forma como escrevi foi uma forma muito sincera, houve muitas pessoas que se relacionaram com a dor sentida. O número de partilhas também foi incrível.”

Nas semanas seguintes, Diogo recebeu telefonemas de França, do Canadá, dos Estados Unidos e de Inglaterra. “Alguém traduziu o que escrevi para inglês e partilhou num site. As pessoas ligavam-me a demonstrar simpatia.” 
Mas também recebeu ameaças. “A última mensagem que recebi a ameaçar-me de morte foi no dia 12 de abril, curiosamente com uma expressão muito usada pelo arguido. Dizia que me ia ‘limpar o sebo’.” Após investigação das autoridades, o Ministério Público não chegou a uma conclusão sobre os autores das ameaças.

Casal sai de Monsanto No final de agosto, Andreia deixou a aldeia de Monsanto, seguida por Diogo em outubro. O casal mora em Lisboa desde então. “Investimos bastante em Monsanto e estávamos preparados para continuar, tínhamos os dois negócios, que estavam a correr relativamente bem, e somos jovens”, conta Diogo. “Deixámos os projetos de Monsanto pela saúde mental da Andreia, que se foi francamente abaixo. Ela passou um período de grande consternação com esta situação.” 

Além disso, as trocas constantes de insultos entre o arguido e o casal eram motivo de angústia acrescida. “Dada a proximidade dos terrenos, era inevitável”, considera Diogo. 

Ambos já têm novos empregos e vivem, neste momento, o que Diogo considera uma “fase de transição”. 

Até agora, o julgamento tem decorrido sem incidentes. E já contou inclusivamente com o testemunho de alguns militares da GNR – que atestaram a não violência do animal –, assim como do deputado André Silva e da assessora jurídica do PAN que, desde a morte de Simba, acompanharam o processo. 

Sobre o desfecho do julgamento, que se aproxima a passos largos, Diogo não hesita quando lhe perguntamos o inevitável: se espera que se faça justiça. “Sem dúvida. Tenho confiança nisso.” 

O autor dos disparos, que alega “ter disparado para o ar um tiro de aviso”, pode enfrentar uma pena de prisão que pode ir até dois anos e multa até 240 dias.