É um bocado ridículo ver um partido que não só se diz de esquerda como na fase atual se proclama como tendo atingido o seu momento mais à esquerda da história, a fazer propaganda com um défice absurdo exigido pela Europa. Mas já sabemos que o PS é um lugar onde tudo cabe e em termos de cartazes tontos costuma cumprir a sua muito razoável quota de mercado. Costa está contente com o défice, claro. Mas para pôr um primeiro-ministro tão irritantemente otimista os números do défice seriam profundamente insuficientes.
A descontração de Costa está longe de poder ser associada ao défice. O que na realidade permite uma boa qualidade de vida a um primeiro-ministro não são tanto os resultados económicos – embora esses sejam fundamentais. O que torna a vida profundamente negra a um chefe do governo é uma oposição capaz – que neste momento não existe, por razões que já foram escalpelizadas até ao tutano – e um movimento sindical em confronto com o Governo. O poder, em última análise, está sempre na rua – não está apenas no boletim de voto de quatro em quatro anos. Todos os agentes políticos têm profunda consciência de que assim é. A “rua” não é um poder constitucional, mas é um poder fáctico.
Mais do que a oposição, foi sempre a rua a provocar maus fígados aos primeiros-ministros. A grande conquista de Costa nestes 500 dias de Governo foi ter a CGTP como a quarta roda da geringonça. Tão importante como a viabilização do Governo pelo PCP e Bloco de Esquerda, foi a paz social garantida pela CGTP. A própria CGTP sempre se assumiu como fazendo parte da solução de Governo (basta ler os seus documentos internos a apresentar a geringonça como sendo também da sua responsabilidade).
Resta saber até onde os sindicatos vão esticar a corda. A tranquilidade de Costa depende disso.