Soul e funk

A diversidade sempre foi um trunfo na noite. Poucas são as casas de sucesso que hoje jogam só para um único tipo de fauna. Antigamente nada disso se passava.

portugal era um país com pouco mundo, pelo menos no que à noite diz respeito, e as tribos seniores agrupavam-se de acordo com o seu estatuto. os pretendentes a betos e benzocas escolhiam o t-clube, como os vanguardistas se orgulhavam de frequentar o frágil ou o kremlin nos seus tempos de glória. havia poucas misturas o que acabava por criar alguma saturação, apesar das vantagens dos frequentadores que sabiam praticamente quem iam encontrar quando decidiam sair à noite.

os estrangeiros não abundavam e os que existiam escolhiam quase todos o bairro alto. actualmente, não faltam caras desconhecidas das mais variadas proveniências do globo. por isso, os lugares ganham outra cor com a sua presença.

mas, voltando aos lusos, a regra básica é conseguir um equilíbrio entre as diferentes faunas. o bar do hernâni, no lx factory, é disso um bom exemplo. tanto se encontram empresários como bandidos, embora hoje esta expressão não tenha o mesmo significado do que outrora…

negros, brancos, ricos e pobres convivem tranquilamente ao som de um excelente funk e soul. a média de idades nunca anda abaixo dos 25 anos e percebe-se que é um público independente que está ali para se divertir e não para ver ou ser visto.

sendo uma casa com uma decoração de bom gosto, há cartazes históricos, na pista ou zona do palco é um james brown estilizado que marca a batuta dos presentes. curiosamente já ouvi vários amigos que lá vão, pela primeira vez, dizerem que lhes faz lembrar nova iorque. será por ser um barracão abandonado e recuperado para a noite?

claro que há pormenores que podem e devem ser melhorados.as casas de banho mantêm o ar de balneário fabril; quando a casa está cheia há dificuldades em pagar; a cabina do dj está muito longe do público; mas, regra geral, é difícil encontrar um melhor bar para começar a noite. hernâni, essa figura quase lendária da noite lisboeta, é um anfitrião à antiga. gosta de receber todos os convidados de igual forma: com um largo sorriso e um ‘sejam bem vindos’. e, também isso, ajuda a marcar a diferença.

vitor.rainho@sol.pt