Suécia. A um passo da NATO

Com a aprovação pelo Parlamento turco, fica a faltar a ratificação pela Hungria. Viktor Órban já deu o assentimento do Governo húngaro mas remeteu decisão final para o Parlamento. E o presidente da Assembleia da Hungria declarou que esta votação ‘não é urgente’.

A aprovação esmagadora (84% dos votos) da adesão da Suécia à NATO pelo Parlamento turco, no início da semana, veio quebrar um impasse diplomático que comprometia o processo, precisamente num altura em que a Turquia de Erdogan se afasta do Ocidente em matéria geopolítica. E deixa a Hungria de Órban como último obstáculo para a efetivação da adesão.
A Suécia, que até à invasão russa da Ucrânia se manteve militarmente neutra, decidiu enviar um pedido de adesão à aliança norte atlântica em 2022, juntamente com a Finlândia, numa declaração de intenções face à ameaça de Putin.

A importância da (e para a) Suécia

A política externa sueca foi, desde o começo da Guerra Fria e da criação da NATO, de não alinhamento e contenção, não aderindo à esfera de influência nem dos Estados Unidos nem da União Soviética, ainda que com óbvia maior simpatia pelas políticas ocidentais. A decisão de aderir à NATO, suportada por sondagens que indicavam que 57% dos suecos estariam a favor, é uma clara demonstração de que Putin não está a conseguir atingir um dos seus grandes objetivos: enfraquecer a aliança atlântica.

Com a presença da Suécia, o mar Báltico fica mais protegido e dificulta possíveis operações futuras dos russos na região, e a adesão vem com a promessa de fazer chegar à Ucrânia caças de quarta geração, os JAS39 Gripen, fabricados pela empresa sueca SAAB.

Sem a Suécia na equação, haverá uma maior dificuldade na execução de medidas urgentes no norte da Europa, e uma dificuldade no processo de alargamento “enfraquece politicamente a NATO, num período crítico para a segurança europeia, beneficiando a Rússia”, escreveu Anna Weislander, diretora do Conselho Atlântico para o Norte da Europa.

Ainda que com o estatuto de parceiro militar, a Suécia trabalhou já em várias instâncias com a NATO, sendo que a última vez foi há cerca de uma semana, no exercício Steadfast Deefender 24, o maior das últimas décadas. Segundo o Ministério da Defesa britânico, o exercício foi uma “demonstração clara da nossa unidade, da nossa força e da nossa determinação em proteger-nos mutuamente e, claro, em proteger os nossos valores e em proteger a ordem internacional baseada em regras. Com a participação de, aproximadamente, 90 mil forças militares de todos os 31 aliados mais o nosso bom parceiro, a Suécia”. Foi referido ainda que aliança demonstra assim a “sua habilidade para reforçar a área euro-atlântica através do movimento de forças transatlântico da América do Norte. Este reforço ocorrerá durante um conflito emergente simulado contra um adversário próximo”.

O processo nórdico

Tanto a Suécia quanto a Finlândia, mantiveram a neutralidade militar até ao crescimento da ameaça russa, que os forçou a optar pela proteção da aliança militar que funciona como escudo da Europa face a uma política externa agressiva por parte do Kremlin. Naturalmente, o processo de adesão seria fácil e rápido – e foi, de certa forma, para a Finlândia –, mas os suecos não tiveram a mesma sorte. A adesão da Finlândia reestruturou o panorama da defesa europeia e acrescentou cerca de 1340 quilómetros à fronteira da NATO com a Rússia, que aumentou assim para o dobro. A Suécia não faz fronteira direta com a Rússia, apesar de a ilha de Gotland estar a cerca de 400 quilómetros de Kaliningrado.

Porém, o Presidente turco, Tayyip Erdogan, negava a entrada sueca, acusando os escandinavos de serem complacentes com “terroristas” ligados aos separatistas do Partido dos Trabalhadores do Curdistão, não procedendo à sua extradição após estarem ligados a protestos na Suécia contra Erdogan, que chegaram ao ponto de queimar o Alcorão. Desde então, a Suécia fortaleceu as suas medidas antiterroristas e levantou uma proibição de transferência de armas existente com a Turquia, duas ações fundamentais que levaram a aprovação de Ancara. Também os caças F-16, que a Turquia desejava num negócio com os Estados Unidos, foram importantes para o desenvolvimento do processo. E ainda que não esteja concluído, com a luz verde à Suécia, certamente estará mais perto. O secretário de Estado americano, Antony Blinken, já se manifestou na rede social X: “Os Estados Unidos aplaudem a decisão do Parlamento turco em aprovar os protocolos para a adesão da Suécia à NATO”, concluindo ainda que a adesão fará a aliança “mais forte e unida que nunca”.
A Suécia está agora a um passo de se juntar à Organização do Tratado do Atlântico Norte.

A decisão húngara

Mas nem só da Turquia dependem os suecos. Também Orbán, o enfant terrible da União Europeia que prometeu não ser o último a decidir, ainda não deu o ‘sim’, ainda que tenha demonstrado interesse nas negociações, convidando também o seu homólogo sueco, com os olhos postos num possível entendimento. Tobias Bilström, ministro dos Negócios Estrangeiros da Suécia, afirmou que não vê “qualquer razão para negociar”, mas admite continuar em contacto com Budapeste. “Espero que a Hungria siga [a Turquia]. Veremos a Suécia entrar na NATO nos próximos meses após a ratificação no parlamento húngaro”, afirmou Charles Kupchan, professor universitário e membro da Council on Foreign Relations.

No dia da aprovação turca, o primeiro-ministro húngaro mudou de postura e mostrou-se favorável à adesão sueca, apelando ao Parlamento que vote a favor “na primeira oportunidade possível”, segundo o Político. Orbán informou que contactou Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, transmitindo-lhe que “o Governo húngaro apoia a adesão da Suécia”. Mas ainda assim, o presidente da Assembleia da Hungria disse, na passada quinta-feira, que a votação “não é urgente”.