Suicídio, acidente ou assassínio? O Mistério da morte de Marilyn Monroe

Há 60 anos que o mistério paira em torno da morte daquela que é uma das mulheres mais conhecidas e admiradas do mundo: Marilyn Monroe. Agora, o novo documentário da Netflix, ‘Mistério de Marilyn Monroe: Gravações Inéditas’, mostra gravações daqueles que lhe foram mais próximos “abrindo asas” a novas teorias e fazendo ligações com o FBI.

Por mais tempo que passem, a sua figura continua a inspirar e deslumbrar alguns e a sua carreira e vida pessoal a fazer refletir outros. O eyeliner preto que fazia o seu olhar “falar”, os cabelos platinados que a distinguiam e destacavam, a boca desenhada que pouco falava, mas muito sorria… Diz a história que dormia sempre nua, mergulhada no perfume Chanel n.º5. Que era ingénua, correta, apreciada por muitos, mas confortada por poucos. Há 60 anos, Norma Jeane Mortenson — a jovem que arrebatou o mundo como Marilyn Monroe, imortalizada como um “mito”, uma estrela, uma deusa e um ícone de beleza — morreu com apenas 36 anos. Mais de meio século depois, as interrogações continuam a pairar sobre a cama do seu amplo quarto em Los Angeles, na Califórnia, onde foi sido encontrada sem vida na madrugada de 5 de agosto de 1962.

“O que aconteceu nessa noite? Foi suicídio? Acidente? Ou algo mais sinistro?”, é desta forma que se inicia a “viagem” de que é feito o novo documentário realizado por Emma Cooper, que estreou no dia 27 de Abril na plataforma de streaming Netflix, Mistério de Marilyn Monroe: Gravações Inéditas. A produção nasceu com a promessa de dar novas informações sobre a conspiração que cerca a fatídica noite e, para isso, usa todo o material que o jornalista Anthony Summers recolheu na década de 80, quando as investigações sobre a morte da atriz foram reabertas.

Summers ouviu quase todos os que estiveram próximos de Marilyn durante a sua vida e, principalmente, nos seus últimos dias – cerca de mil pessoas –, para tentar reconstituir a tragédia: desde declarações de realizadores emblemáticos como Billy Wilder e John Huston, a colegas de trabalho como a atriz Jane Russell, ao psiquiatra e amigo próximo, Ralph Greenson e Eunice Murray, empregada da artista que deu “o sinal de alerta”. Com imagens raras da carreira de Marilyn e atores que reproduzem os donos das vozes presentes nos áudios, o documentário esmiúça as muitas contradições e interrogações sobre seus últimos momentos, como uma visita de Bobby Kennedy no dia da morte, ou a informação de que ela teria sido encontrada ainda com vida, mas morrido na ambulância, e levada novamente para casa.

 

A teoria oficial e a perseguição da musa

“Foi como partir uma pedra com um dedo”, admite o jornalista a dada altura. E não é difícil perceber o porquê. Neste caso, o “labirinto” é tão grande que o próprio espectador se perde na quantidade de cassetes e teorias. Na versão pública, o psiquiatra da atriz foi chamado à casa da artista, de madrugada, por Eunice Murray, que não recebia resposta da estrela quando bateu à porta do seu quarto, que se encontrava trancada. Ao invadir os aposentos – partindo a janela do quarto -– Greenson encontrou o símbolo de Hollywood sem roupa, cercada por “uma cena trágica”. Junto dela inúmeros frascos de remédios chamaram atenção do psiquiatra, que depressa percebeu que a sua paciente e grande amiga se encontrava já sem vida. Segundo as autoridades, Monroe teria sofrido uma overdose de medicamentos. Os especialistas, contudo, logo descartaram a possibilidade da causa da morte ter sido uma intoxicação acidental, dada a quantidade de remédios. Mas, para lá dessa versão, partilhada por várias vozes no documentário que admitem que a atriz, nos seus últimos dias, parecia muito transtornada e não pedia ajuda, Summers dá-nos outro caminho: Marilyn tinha uma relação com os dois irmãos Kennedy e isso não parecia muito apreciado pelas poderosas forças do FBI, já que a atriz era vista como esquerdista, numa altura em que acontecia o grande confronto entre as duas grandes potências mundiais – União Soviética e EUA –, a chamada Guerra Fria.

Depois de inúmeras relações fracassadas – em destaque com o executivo da Fox, Joseph M. Schenck, com Johnny Hyde, vice-presidente da William Morris Agency, ou mesmo Frank Sinatra com quem teve um breve affair – e três casamentos bastante sofridos – aos 16 anos com James Dougherty; em 1954, com a lenda do beisebol Joe DiMaggio e, por fim, em 1956, com Arthur Miller, dramaturgo judeu vencedor do Pulitzer – o relacionamento com o procurador-geral e o próprio Presidente começou a ser conhecido. As pessoas mais próximas dizem, no documentário, que Marilyn começou por frequentar a casa em Palm Springs do ator Peter Lawford, que era casado com a irmã dos Kennedy. Era aí que Jack e Bobby passavam férias e toda a gente sabia do caso que a atriz mantinha com os irmãos.

Quem gostou de sabê-lo foi Jimmy Hoffa, líder do Treamsters Union – Sindicato dos Camionistas dos EUA – famoso corrupto ligado à máfia que, tendo sido interrogado por Robert pelas suas “atividades impróprias”, quis arranjar uma forma de se vingar. Contratou um detetive para “manchar a imagem dos irmãos Kennedy”, que instalou escutas tanto na casa da praia como na casa de Marilyn. Graças a isso, foi possível ficar a conhecer pormenores dos relacionamentos: através de áudios de conversas telefónicas, discussões, sexo, etc. Mas já desde o casamento com Arthur Miller que a estrela era observada pelo FBI, dadas as relações que o dramaturgo mantinha com os comunistas. Summers mostra documentos dos Assuntos de Segurança e Inteligência Nacional que acreditavam que “o brinquedo célebre dos irmãos Kennedy, uma criatura volátil que ia ao psiquiatra todos os dias e que falava ao telefone com toda a gente – pessoas de esquerda – não era a mulher certa para estar com o Presidente e o procurador dos EUA”.

Num documento de julho de 1962, ou seja, um mês antes da sua morte, um informador anónimo falou com o FBI de um encontro entre a atriz e o Presidente “onde se falou da moralidade dos testes nucleares na altura”. Segundo o jornalista, Monroe era “amiga de amigas de Fidel Castro” e isso fazia com que fosse “um alvo a abater”.

Foi por essa altura que os irmãos Kennedy perceberam que não podiam manter a relação e, através de uma dura chamada, pediram que à atriz que não os voltasse a contactar. “Foi isso que a matou”, acredita Arthur James, um dos melhores amigos de Marilyn.

Existe ainda uma outra teoria, contada pela viúva de Arthur Jacobs, homem que geria todas as relações da estrela de Hollywood. Segundo a mulher, Jacobs recebeu uma chamada que o informou da morte da sua cliente, às 22h30 do dia 4 de agosto. Nesse momento o casal estava a assistir a um espetáculo no Hollywood Bowl. Porém, assim que recebeu a notícia, o agente deslocou-se até à casa de Monroe e fez de tudo para manter a imprensa afastada. Então a pergunta passa a ser: o que aconteceu entre as 22h30 e as 3 da manhã? Segundo Ken Hunter, responsável pela ambulância que levou Marilyn para o hospital de Santa Mónica, a artista foi encontrada na cama de lado, quando toda a gente dizia ter sido de “bruços”. E Schaefer, o dono da empresa a que pertencia o veículo, afirmou que a atriz encontrava-se em coma e morreu na ambulância, tendo sido levada novamente para o quarto, a mando de alguém.

O livro de François Forestier, Marilyn e JFK, lançado em 2009, já tinha escalpelizado a ligação entre Marilyn e os Kennedy, assim como a teoria de que ela morreu muito mais cedo que a hora oficial e que um grupo de gente esteve na sua casa. Na produção da Netflix, fica-se porém a saber mais pormenores, como o facto de Robert Kennedy ter sido uma dessas pessoas (segundo Murray), de Marilyn ter ligado para a Casa Branca dias antes “muito transtornada por ter sido usada”, ou de ter sido contratada uma pessoa para apagar todas as provas da breve estadia de Bobby na casa de praia nesse dia. Depois da sua morte, todas as fotografias e gravações entre os três foram apreendidas. Jim Doyle, um agente sénior do FBI, chegou mesmo a admitir a Summers que estava na casa quando a atriz morreu e que a equipa teve de “entrar em cena imediatamente para não se perceber o que tinha acontecido”. Mas afinal o que é mentira e o que é verdade? Hollywood, Los Angeles, escutas, rumores, assassínio, suicídio, honestidade… A verdade é que o jornalista, apesar de ter dedicado dois anos da sua vida à morte de Marilyn Monroe, continua sem respostas definitivas. E parece que a estrela adivinhou: “As coisas verdadeiras raramente são divulgadas. Geralmente, só as coisas falsas. É difícil saber por onde começar se não pela verdade. Quando era pequena, sentada no cinema aos sábados à tarde, pensava como seria maravilhoso tornar-me atriz. Em tudo o que veria se isso acontecesse. Queria saber. Gostava de ser uma boa atriz”, ouve-se na última parte do documentário, que nos confronta com os seus olhos brilhantes e sorriso rasgado de quem passou a vida a procurar um lugar de pertença.