Sunsets

Este ano, a moda das sunset parties alastrou-se a todo o Algarve e, por isso, muitos banhistas foram obrigados a consumir o que não queriam.

À bela maneira portuguesa, o conceito já foi adulterado, na maioria dos casos, e o que é suposto ser um final de tarde a contemplar o pôr do sol, a ouvir uma música tranquila, transformou-se em verdadeiras raves a partir das seis da tarde. O que não traria nada de mal ao mundo se nas praias não estivessem famílias inteiras, com bebés, pais e avós. Alguns seguiram a linha justa e começaram lentamente, para depois das oito optarem por sons bem mais fortes. Nestes casos, nada a opor. A essa hora já as famílias estão em casa e os peixinhos não se incomodam com o techno e afins. Conheci bem uma das excepções, onde passei um final de tarde fantástico antes de descermos para jantar. Falo do Waves/Paixa, no Ancão, onde o final de tarde é verdadeiramente magnífico. Como andei por outras paragens onde as sunset não se faziam ouvir – nas praias das ilhas da Ria Formosa basta andar duzentos metros para não se ver vivalma – não consegui ir a outra que é de visita obrigatória, passe a contradição: o Xiringuito, na Vila Joya. Fica para outras núpcias.

O outro fenómeno que me chamou a atenção nestas miniférias foi a proliferação de ‘privados’ tanto em discotecas como em bares de praia, segundo me contaram. Nas casas dançantes muitos não se incomodavam de pagar mais de 400 euros para terem direito a um bocado de madeira a fazer de tampo assente noutro bocado de madeira. Com condições mínimas e uma fita a separar o ‘privado’ do povo, os clientes mais endinheirados despendiam de bom grado essas verbas para poderem mostrar que estavam numa situação privilegiada, estou em crer. Claro que estas modas são importadas, essencialmente de Ibiza, e na ilha do pecado contam-me que há quem chegue a pagar 120 mil euros pela principal mesa. Como é que se consome tanto? É simples: pedem-se garrafas magnum dos champanhes mais caros e siga a festa.

Dir-se-á que numa altura de crise é chocante gastar tanto dinheiro. Não penso assim. Quem o tem e pode gastar, está a alimentar uma cadeia que começa em quem produz os produtos, em quem serve, etc. Se os ricos se esconderem e só gastarem em paraísos no estrangeiro não estão a gerar riqueza no nosso país.

vitor.rainho@sol.pt