Tablóides e lacaios do poder

Os jornalistas do News of the World ultrapassaram todas as barreiras éticas. Por cá, não falta quem pense como eles.

muito provavelmente são os que vendem mais. na maioria dos casos, ficam a léguas da concorrência. se tantos os compram é porque os seus conteúdos agradam. nos últimos dias, porém, um dos representantes máximos do género foi obrigado a fazer manchete com a última notícia que quereria dar: o anúncio da sua própria morte. nesse dia, vendeu ainda mais do que o normal: quase quatro milhões e meio de exemplares. o news of the world, ao fim de 168 anos, foi obrigado a fechar portas devido aos escândalos em que se envolveram alguns dos seus responsáveis. e que fizeram esses rapazes? aliados a detectives privados e a agentes da polícia, conseguiram ‘escutar’ dezenas de conversas privadas que figuras públicas, e não só, tinham ao telefone. funcionavam praticamente como alguns organismos policiais que fazem escutas sem as devidas autorizações judiciais. mas um jornal conseguir fazer escutas telefónicas e resistir durante anos é obra. há quem defenda que não é obra do acaso. acreditava-se que o proprietário do referido jornal, rupert murdoch, era tão temido pela classe política que lhe eram permitidos muitos atropelos à etica e às regras mais elementares da decência. temiam os políticos que com os vários meios de comunicação social de que dispunha, murdoch podia eleger ou deitar abaixo governos.

não sei se é esta a verdade, apenas sei que o news of the world fazia uma trabalho execrável, sem olhar a meios para atingir os seus fins.ou seja: vender jornais. não importavam os sentimentos das suas vítimas, fossem familiares de soldados mortos no afeganistão ou parentes de vítimas de atentados terroristas. parece que até o ex-primeiro-ministro inglês foi uma das presas. o jornal foi obrigado a fechar, mas os abutres do género não desapareceram com o fim do tablóide de murdoch.

curiosamente, em portugal, algumas aventesmas de serviço do poder cessante – e que já se devem ter colocado ao dispor dos novos senhores – congratularam-se com o fim de tais escutas, pois as mesmas comparam-se a situações semelhantes, vividas, recentemente, em território nacional. se os jornalistas dos tablóides ingleses não têm vergonha na cara, por cá também há quem não lhes fique muito atrás. quererem comparar um serviço sujo, sem princípios, a investigação jornalística é de quem não tem mesmo orgulho próprio e está à venda por um preço, suponho, baixo.

esquecendo essas tristes figuras, diga-se que em portugal não existiu um verdadeiro tablóide nos tempos mais recentes. houve tentativas, mas sem grande sucesso. o correio da manhã, líder absoluto de vendas, o mais que faz é puxar por uns topless à primeira página. o segredo é outro…

vitor.rainho@sol.pt