Tartarugas americanas ameaçam cágados portugueses

Há cada vez mais pessoas a abandonar as espécies americanas nos rios e lagos, pondo em risco a sobrevivência dos cágados. «É um flagelo», diz o Instituto de Conservação da Natureza.

tartarugas americanas abandonadas pelos donos estão a invadir as lagoas e rios portugueses e a ameaçar duas espécies de cágados nacionais, uma delas em risco de extinção.

«há cada vez mais pessoas a abandonar estas tartarugas. compram-nas nas lojas e nem imaginam que elas podem crescer tanto», explica ao sol o veterinário joel ferraz, do centro veterinário de animais exóticos no porto. «acabam por libertá-las nos rios e nos lagos com muita frequência, pondo em risco as espécies de cágados autóctones».

as tartarugas abandonadas – que continuam a vender-se nas lojas de animais, apesar de algumas espécies estarem proibidas desde 1999 – estão a tornar-se um problema grave para o ecossistema, alertam os especialistas.

«a situação é muito mais grave do que se pensa, até porque a tartaruga da flórida está na lista das 100 espécies invasoras mais perigosas», alerta a engenheira zootécnica do parque biológico de gaia, ana alves.

a sua venda foi proibida em 1999, por «risco ecológico», mas as tartarugas – que podem viver até aos 50 anos – continuam a ser comercializadas (ver texto em baixo). a sua libertação está a pôr em perigo a sobrevivência do cágado-mediterrânico e do cágado-de-carapaça-estriada, o mais ameaçado em portugal.

as espécies americanas disputam o mesmo habitat, mas são maiores, mais agressivas, põem mais ovos e fazem posturas mais frequentes do que os cágados autóctones – explica a especialista.

desde o ano passado que está em campo um projecto destinado à erradicação de tartarugas invasoras numa parceria entre entidades nacionais, como o parque de gaia, e a comunidade de valência, em espanha. «o projecto provou que há fortes suspeitas de que estas tartarugas invasoras estão a reproduzir-se na natureza. só no algarve, foram recolhidas cerca de 100  tartarugas exóticas no ano passado», diz ana alves. além de porem em risco outros cágados ameaçam, também peixes e anfíbios, dos quais se alimentam.

crimes ambientais

o parque de gaia é um dos locais que aceita receber estas tartarugas. só no ano passado foram entregues 100 tartarugas que os proprietários queriam abandonar.

trata-se de um problema que o instituto de conservação da natureza e floresta (icnf) conhece bem. «é um flagelo» – diz ao sol anabela isidoro, daquele instituto. «a maioria das pessoas acha que está a agir correctamente ao libertar os animais na natureza, mas na realidade está a prejudicar o ambiente e a cometer um crime punível por lei», avisa.

quase diariamente batem à porta do icnf pessoas que querem deixar as tartarugas que tinham em casa. é o único local em lisboa que recebe estes animais, já que o jardim zoológico deixou de o fazer porque o número de pedidos tornou-se «problemático». «estas espécies encontram-se já em número excessivo», explica a responsável de comunicação do zoo. os animais ocupam o lago do reptilário e os lagos e cursos de água que circundam as ilhas de primatas no jardim zoológico. «não podemos ultrapassar os 150 indivíduos porque começa a verificar-se competição entre cágados e destes com outras espécies», remata.

joana.f.costa@sol.pt