Tim Bernardes. “Portugal mergulha ainda mais fundo nas letras”

Nascer, Viver, Morrer, BB (Garupa de Moto Amarela) ou A Balada de Tim Bernardes são apenas alguns dos temas conhecidos e reconhecidos do álbum Mil Coisas Invisíveis, de Tim Bernardes. O primeiro, Recomeçar, valeu-lhe a indicação para um Grammy Latino. Atua nos Coliseus de Lisboa e do Porto em fevereiro

Cantor e compositor brasileiro, Tim Bernardes é conhecido por ser o vocalista e guitarrista principal da banda O Terno, um grupo de rock formado em São Paulo em 2009. O Terno ganhou popularidade pela sua mistura única de rock, pop e influências brasileiras. Além da sua carreira com a banda, Tim Bernardes também lançou álbuns a solo, nos quais demonstra as suas habilidades como cantor e compositor. O seu trabalho a solo muitas vezes explora um som mais íntimo e acústico em comparação com o estilo da banda.

Depois de ter esgotado seis salas portuguesas em 2022 e de ter tocado no Vodafone Paredes de Coura em 2023, Tim Bernardes regressa a território lusitano para dois concertos, nos Coliseus de Lisboa e do Porto, nos dias 1 e 2 de fevereiro.

Como é que surgiu a paixão pela música? 

Pelo que contam, já gostava de música desde muito pequeno. Falei música antes de falar mamãe e papai! No final do clipe d’”A Balada de Tim Bernardes tem um vídeo de eu bebé falando isso. Meus pais viram que eu gostava e colocavam instrumentos para eu testar, comecei a ter aulas com seis anos… Meu pai e minha mãe punham muita música em casa e podia pesquisar livremente. Então fui me apaixonando…

Sentias essa liberdade. 

Sim. E fui pesquisando qual o tipo de música que eu gostava. Nunca me impuseram “gostar desta música ou daquela música”. Quando tinha 14 anos, já estava tocando bastante e procurando discografias de bandas dos anos 60 que eu gostava. Eu e meus amigos. Foi uma coisa gradual.

Começaste a ter aulas de música aos seis anos. Como é que foi esse período? 

Me lembro muito de uma aula em que tocávamos percussões em grupo e entendi o que era pegar o ritmo de uma música. Me recordo da sensação: parecia como pegar uma onda. Você alinha o seu ritmo interno com o da música. Pensei “Nossa, entendi tudo!”. E eram aulas de musicalização, como são chamadas aqui: aprendíamos um pouco de baixo, de violão, etc. E eu acabei indo para a guitarra. Mas por causa dessas aulas sempre toquei um pouco de todos os instrumentos e gostava de gravar minhas coisas.

Percebeste logo que ias seguir para o mundo da música como artista ou não pensavas nisso? 

Não, foi meio gradual. Sempre gostei de música, mas a partir dos 13/14 anos comecei a ficar mais viciado em tocar e descobrir bandas. Conheci o Gui, baixista d’O Terno, a gente começou a tocar juntos. Com essa idade percebi que não queria fazer outra coisa que não fosse tocar música sempre. Não sabia se queria fazer trilhas, tocar música de alguém… Aos poucos, fui compreendendo. Não tinha muita vontade de estar na frente de um palco. Era um pouco mais introvertido. Queria estar fazendo a música, dirigindo a música, mas não necessariamente como frontman. Foi uma coisa que foi acontecendo. N’O Terno ninguém mais cantava. Então, comecei a cantar. Fui me descobrindo como músico, como cantor.

Estudaste Música. Como é que foi a faculdade? 

Foi muito interessante, foi uma escolha feliz! Como já entendia que queria ser músico, mas não tinha todas as coisas claras, ter quatro anos estudando música todos os dias, conhecendo pessoas e, mais que tudo, vivendo a vida… Acho que se tivesse saído da escola com 17 anos para ser músico, não me sentiria tão pronto como aos 21. Foi o tempo também que, fora da faculdade, aprendi mais coisas. Não me interessava muito pela música mais instrumental, jazzística. A faculdade não valorizava muito a canção ou o rock and roll. Então, não levava a faculdade muito a sério. Tentava aproveitar aquilo que tinha de interessante: o estudo de perceção, de treinamento do ouvido, algumas coisas. Mais que tudo, acho que se aprende a disciplina: todos os dias ir lá de manhã, estudar, passar de ano… Acho que ajuda a manter o ónus interno. Foi muito legal!

Ao mesmo tempo tinhas a tua banda. Como é que foram os primeiros anos na estrada? 

Ainda não era bem “estar na estrada” porque era em São Paulo. Não tínhamos projeção para tocar fora. Mas foi a época em que O Terno se formou, gravou o primeiro disco. Foi quando estava no último ano da faculdade. Até ganhámos um prémio da MTV brasileira. Saí da faculdade e estávamos tendo as primeiras viagens. Foi um período de incubação.

O que tens a dizer sobre o teu primeiro álbum, o ‘Recomeçar’?

Ele é um primeiro disco mas, ao mesmo tempo, já tinha feito três discos com o Terno e viajado bastante. Então, foi realmente um recomeço e uma sensação de primeiro disco para mim. Não tinha muita expectativa, ninguém estava esperando que fizesse um disco ou não. Então, foi muito gostoso de gravar. Já o tinha na cabeça há muito tempo, tinha canções guardadas. É um disco mais íntimo, mais pessoal, mais sincero. Fiz mais arranjos de orquestra, não é um disco de banda. E acabei me surpreendendo com a recetividade dele, que foi muito grande! Do público, da crítica. Me colocou para fazer shows sozinho e foi um processo legal, me descobrir enquanto cantor. Também desenvolvi minha voz, detalhes da voz, que com uma banda de rock não era tão fácil de desenvolver. 

E o ‘Mil Coisas Invisíveis’?

 Quando cheguei neste disco, já tinha gravado o quarto disco d’O Terno. Então, tinha experiência enquanto compositor e tudo. É muito íntimo, de assuntos internos, mas é um pouco mais da chegada à superfície, deslumbramento com a vida, um pouco mais iluminado, talvez um pouco mais leve. Experimentei outras coisas, enquanto o ‘Recomeçar’ é mais dos arranjos, do piano. Tem momentos mais minimalistas, mais leves e crus. 

Esgotaste seis salas em Portugal no ano passado e vais regressar para mais dois concertos. O que esperas deles?

Estou muito animado porque a última vinda a Portugal foi muito bonita! Salas com muita gente! Fiz o Coliseu de Lisboa. Fora do Brasil, acho que o público português é o mais carinhoso e empolgado com a minha música! Então, é sempre um prazer voltar. As salas são bonitas, as equipas são boas, o público é atento…

E porque é que achas que os portugueses se sentem tão conectados com a tua música? 

Primeiro, tem a coisa da letra: as pessoas se ligam muito na canção, naquilo que estou dizendo. Portugal mergulha ainda mais fundo nas letras. É um público muito ligado na música popular brasileira, também na dos anos 60 e 70, e muito ligado no indie do mundo. É uma combinação boa, um casamento feliz!

Quais são os teus planos para o futuro? 

Vou fazer uma tour pela Europa, também uma tour com O Terno (que está sem tocar ao vivo há quatro anos) pelas cidades brasileiras principais e Los Angeles. Eu fiz muitos shows desde 2022, quando lancei o disco, e acho que 2024 vai ser um ano em que vou fazer menos e criar um pouco mais, me recolher um pouquinho em estúdio e testar novas músicas. Talvez seja um ano com menos tour para entender quais são os meus próximos passos. Mergulhar de volta e entender o futuro.