vencidos pelo petróleo barato

Grandes países exportadores estão a braços com crises económicas severas por causa da baixa do crude. Na Venezuela já há consequências políticas.

O mapa que ilustra este texto é claro. Quem lucra com a baixa do petróleo? A maior parte do mundo, porque é comprador. Quem perde? Apenas alguns, os exportadores – só que este ‘alguns’ têm grande relevo internacional ou geoestratégico e incluem parceiros comerciais de Portugal.

Na lista das nações em apuros com a baixa do preço do barril de crude estão a Rússia, a Arábia Saudita, o Iraque, Angola ou a Venezuela. 

Vladimir Putin já disse que o orçamento do segundo maior exportador do planeta para 2016 é «irrealista», já que foi desenvolvido com base numa estimativa de 50 dólares por barril – e este anda abaixo dos 30. Face à discrepância gritante, Anton Siluanov, o ministro das Finanças russo, deu a receita para adequar as expectativas ao valor de mercado: «A nossa tarefa é adaptar o orçamento às novas realidades».

Um cenário complexo porque além da baixa do petróleo, a Rússia está envolvida militarmente na Ucrânia, a ser alvo de sanções impostas pela União Europeia e tem o rublo desvalorizado. E ainda há o peso da história: uma das principais causas da queda da União Soviética foram os baixos preços do petróleo.

Outro dos países em apuros é a Arábia Saudita, o maior exportador do mundo com cerca de 20% de quota do mercado. E um dos responsáveis pela queda dos preços, já que não tem recuado na sua estratégia de não cortar na produção para fazer subir a cotação do barril. Face ao défice estimado de 20% do PIB com que fechou 2015, decidiu série de medidas extraordinárias para este ano: aumento do preço dos combustíveis, cortes em prestações sociais ou privatizações. 

Médio Oriente em apuros

Aliás, no início de 2016 foi avançada a bomba atómica: «A Arábia Saudita pondera a entrada em bolsa da Aramco [a petrolífera estatal], provavelmente a empresa mais valiosa do planeta», noticiou a revista The Economist. 
O FMI faz a leitura. «Os países ricos em recursos naturais beneficiaram dos preços excecionais destas ‘commodities’ durante os anos 2000, com os metais e do petróleo a atingirem máximos históricos», avançou o Fundo num relatório de outubro de 2015 sobre o ajustamento à queda do preço destas matérias primas. Mas agora, «os exportadores de ‘commodities’ vão precisar de se ajustar a um – possivelmente prolongado – período com menor exportação e menores receitas fiscais».

Outro dos afetados é o Iraque, com um país destruído e envolvido numa guerra contra o Estado Islâmico. O antigo embaixador norte-americano na Síria, Robert Ford, recordou há poucos dias que «tanto o governo de Bagdade como o governo curdo de Erbil estão fortemente dependentes do petróleo e da sua venda». Em consequência, os «preços baixos estão a esmagar a sua capacidade de mobilizar recursos para a luta contra o EI».

A crise também bateu forte junto de dois parceiros económicos de Portugal. Em Angola, a baixa do preço do barril conduziu a uma crise económica, restrições às transferências de capitais e importações, bem como a ruturas no stock de bens essenciais.

Angola sofre

As ondas de choque chegaram a Portugal, com empresas a terem que fechar o negócio com Luanda, um dos destinos fundamentais durante a crise financeira nacional.

«A economia angolana tem sido severamente afetada pela queda acentuada dos preços do petróleo», concluía em Agosto o responsável pela missão do FMI no país, frisando que «com o petróleo a corresponder a mais de 95% das exportações e cerca de 75% da receita fiscal, os recentes desenvolvimentos sublinham a importância de promover a diversificação da economia, preservando a estabilidade macroeconómica, e avançar com uma ambiciosa agenda de reformas estruturais».

A consequência da crise nos preços tem beliscado o poder político angolano, mas José Eduardo dos Santos mantém-se firme. O mesmo não aconteceu com o regime venezuelano.

Inflação galopante (há rumores que já terá chegado aos 300%), cortes nos apoios sociais que deram um imenso apoio popular a Hugo Chávez ou a escassez de produtos alimentares básicos foram fatais para o partido de Nicolás Maduro, que perdeu as legislativas de dezembro. «Somos um ‘petroestado’ e só sabemos viver desta forma. A capacidade de produção tem vindo a ser destruída e estamos aterrados com a queda do preço do petróleo». Era assim que, já em agosto, um sociólogo venezuelano resumia ao Financial Times a dependência do país.