Vendedores de Cascais descontentes com mudança para novos quiosques

Os vendedores ambulantes da Baía de Cascais e da Rua Direita que, na quinta-feira, vão ser transferidos para os dez novos quiosques do Largo Cidade de Vitória, estão descontentes com a mudança que dizem «vai prejudicar o negócio».

Isabel Ribeiro tem o seu «estamine» montado em frente à praia dos Pescadores, na Baía de Cascais, há mais de 50 anos e é «com o coração partido» que começa a arrumar os seus panos, toalhas e aventais artesanais para se instalar, já na quinta-feira, no novo quiosque que a Câmara de Cascais disponibilizou.

«Não queria nada ir para lá. Passei aqui a minha vida toda, aqui é que é o meu lugar, é onde vêm os turistas e sempre compram alguma coisa. Agora ali, naquele cubículo, nem sei onde pôr as coisas», lamentou.

Também a filha, Joana Silva, está descontente com a mudança que, «além de prejudicar o negócio, não oferece nenhum conforto» aos vendedores.

«A minha mãe já é uma pessoa de idade e aquilo não tem espaço nenhum para se estar lá dentro, não tem condições», afirmou.

Com o seu posto de venda de búzios e conchas mesmo ao lado, Cristina Pereira vende na Baía há mais de 30 anos e também discorda da mudança para o Largo Cidade de Vitória.

«Com menos dinheiro do que a câmara gastou a fazer aqueles quiosques novos, tinham remodelado estes nem que nós pagássemos mais alguma coisa, mas aqui é que nós estamos felizes», disse.

Os vendedores dizem que a crise já tem levado a uma quebra acentuada de vendas e temem que aumente ainda mais com a mudança de localização.

«Há clientes estrangeiros que todos os anos vêm aqui ter connosco directamente, já sabem onde estamos. Agora vamos ficar mais escondidos, claro que isto vai ser mau para o negócio», acrescentou Sónia Ferreira.

Segundo a vendedora, um abaixo-assinado entregue à câmara há uns anos adiou a decisão de despejar os vendedores ambulantes, mas agora a medida vai mesmo ser concretizada.

«Chamaram-nos para uma reunião e apresentaram-nos o projecto dos novos quiosques a dizer que era para onde íamos», contou Sónia Ferreira que, na altura, até ficou com a ideia de que teriam melhores condições.

«Até pareciam grandes e com melhor sentido estético e não aquilo que apresentam afinal», lamentou.

Um pouco mais à frente, também a proprietária de outro ponto de venda na Baía acusa a câmara de estar a «despachar» os vendedores ambulantes para «casotas».

«Em Dezembro disseram-nos que tínhamos de sair e nós nem pudemos dizer ‘ai’ nem ‘ui’. Ainda pedimos para ficar no mesmo sítio, mas antes de acabarmos a pergunta já nos estavam a dizer ‘não’. Querem correr connosco à força toda», acusou a vendedora.

Os dez novos quiosques, que implicaram um investimento municipal de 90 mil euros, são também considerados pequenos em espaço para os vendedores ambulantes da Rua Frederico Arouca (antiga Rua Direita).

«Aquilo é muito pequeno e dizem que não podemos pôr as roupas cá fora em exposição. Ora assim é impossível vender», afirmou Alzira Vale, vendedora ambulante em Cascais há 30 anos.

Confrontado com as críticas, o presidente do executivo municipal de Cascais, Carlos Carreiras, disse à agência Lusa que «à câmara não chegou nenhuma voz de descontentamento».

«Pelo contrário, esta era uma promessa antiga de há mais de 20 anos, de dar melhores condições de trabalho aos vendedores ambulantes, e que finalmente vai ser cumprida», afirmou o autarca.

Segundo a autarquia, os dez novos quiosques vão dar aos vendedores condições de trabalho dignas para exercerem a sua actividade, com acesso a pontos de electricidade, possibilidade de horário prolongado e abrigo do tempo.

Além disso, correspondem também ao «ordenamento do espaço público» na Baía e Rua Direita e vão dar «nova vida e dinâmica» ao Largo Cidade de Vitória.

A inauguração está agendada para quinta-feira, sendo que os vendedores têm até domingo para desocupar definitivamente as actuais estruturas.

Lusa/SOL