Vizinhos assinam acordo para o Congo

Uma crise de quase 20 anos que matou já cerca de cinco milhões de pessoas poderá estar mais próximo de uma solução. No domingo, 11 nações africanas directa ou indirectamente envolvidas nas sucessivas guerras que têm como epicentro o leste da República Democrática do Congo assinaram, na sede da União Africana em Adis Abeba (Etiópia),…

o documento abre caminho à substituição da actual força de manutenção de paz das nações unidas por um contingente mandatado para combater os grupos rebeldes em acção na região – alguns apoiados por nações vizinhas, como o ruanda e o uganda. ao longo do último ano, uma rebelião protagonizada pelo movimento m23, com ligações ao ruanda, causou dois milhões de refugiados. em novembro, a principal cidade do leste congolês, goma, foi tomada pelo movimento.

o secretário-geral da onu, ban ki-moon, que assistiu à assinatura do acordo, irá defender a proposta junto do conselho de segurança. segundo a imprensa internacional, uma eventual resolução tem aprovação garantida. as nações da sadc (comunidade para o desenvolvimento da áfrica austral), bloco que inclui angola e moçambique, têm 3.000 soldados prontos a embarcar para o congo. maputo já aprovou o envio de um contigente.

apesar do acordo alcançado em adis abeba, o conselho de segurança da onu continua «inquieto» perante o agravamento da situação no terreno.

esta semana, registaram-se combates no interior do território controlado pelo m23 – um sintoma de tensões no seio do grupo rebelde. o movimento encontra-se agora dividido entre os homens de sultani makenga, chefe militar do m23, e os apoiantes de bosco ntaganda, procurado pelo tribunal penal internacional. esta cisão poderá dificultar as negociações entre o movimento e kinshasa. a violência impede ainda que a ajuda humanitária chegue às populações afectadas.

há anos que o leste do congo é palco de uma sucessão de guerras e rebeliões sangrentas que opõem grupos étnicos e políticos na luta pela controlo de um território rico em ouro, tungsténio e columbita-tantalita (conhecido como coltan, este mineral é um recurso fundamental para a indústria electrónica mundial, sobretudo no fabrico de telemóveis). a sucessão de guerras e rebeliões é caracterizada por um elevado grau de violência que inclui a utilização de crianças-soldado, a mutilação de populações civis e o uso da violação sexual como arma. a longa crise regional é, no entanto, largamente ignorada pelo resto do mundo.

pedro.guerreiro@sol.pt