Wilders. O paladino anti-islão que promete uma revolução

Líder do PVV promete “desislamizar” a Holanda e não gosta da “escumalha” marroquina. Vive sob proteção policial 24 horas por dia

Geert Wilders bem apregoa ser o candidato antissistema mas, na realidade, é um dos mais antigos deputados do parlamento holandês. Antes de fundar o xenófobo e anti-islamita Partido da Liberdade (PVV), em 2006, representou durante vários anos o VVD, do primeiro-ministro Mark Rutte, o partido de centro-direita que agora promete esmagar nas eleições legislativas.

Conhecido pelo seu penteado trumpiano, Wilders é um verdadeiro caso de sucesso na política holandesa recente e um dos dignos representantes da vaga populista de extrema-direita que tem entrado em cena nos principais países europeus. Mas ao contrário da Frente Nacional francesa ou do UKIP britânico, o PVV só tem um membro registado – ele próprio, claro – e é um verdadeiro partido monotemático. Defende o abandono da Holanda da União Europeia, o aumento do orçamento da defesa e da polícia e o fim do investimento público nas artes, na inovação e no desenvolvimento, é certo, mas o seu curto programa eleitoral é quase exclusivamente dedicado à “desislamização” da Holanda. “Milhões de cidadãos holandeses estão fartos da islamização do país. Basta de imigração e asilo em massa, de terror, de violência e insegurança. Em vez de pagarmos (…) às pessoas que não queremos aqui, iremos gastar o dinheiro nos holandeses comuns”, lê-se na introdução do seu programa de apenas uma página. A solução para levar a cabo tal cruzada? Simples: “Fechar as fronteiras (…) [e] os centros de acolhimento”, “anular todas as concessões de asilo e residência que já foram garantidas”, “encerrar todas as mesquitas e escolas islâmicas” e “banir o Corão”.

O conteúdo principal da mensagem política do PVV não se fica, ainda assim, apenas pelo papel. Num episódio que remonta a 2014, Wilders foi formalmente acusado pela justiça holandesa de incitar ao ódio contra cidadãos de ascendência marroquina, a quem apelidou, muito recentemente, como a “escumalha que torna as ruas inseguras”. Para além disso, a utilização do Twitter como principal veículo de comunicação faz da página de Wilders uma verdadeira máquina de produção diária de conteúdo xenófobo e insultuoso.

A mensagem, apesar de tudo, tem recebido bastante apoio na Holanda. Embora esteja a descer claramente nas sondagens nos últimos dias, o PVV encontra-se na segunda posição das intenções de voto dos holandeses, com cerca de 14%, logo atrás do partido do governo. Para além disso, Wilders conseguiu trazer para a campanha algumas das suas reivindicações, como um debate mais aprofundado sobre a imigração ou a integração – uma clara vitória da sua mensagem populista, mas que, diga-se, acaba por esgotar a quase exclusividade do seu programa político.

Um bom resultado nas eleições de hoje não garante que Wilders entre no governo e, face à rejeição pública oriunda dos principais partidos de o convidar para tal, o líder do PVV já prometeu uma “revolução”.

O candidato a deputado vive sob proteção policial durante 24 horas desde que se soube que o jovem marroquino que assassinou o realizador Theo van Gogh, em 2004, também o tinha debaixo de mira. Desde essa altura que Wilders vive numa verdadeira bolha, uma realidade que muitos acreditam ter contribuído para a sua radicalização extrema.