A sua natureza iconoclasta – de virar o mundo do avesso para o entender, se necessário – fazia do seu jornalismo um constante exercício de liberdade, com custos, claro, mas admiradores, sem dúvida.
Pensava sempre pela sua cabeça, com independência e frontalidade. E isto merece admiração e respeito.
Expressava corajosamente uma opinião independente, acutilante e muitas vezes desassombrada, o que lhe valeu muitas incompreensões.
A sua qualidade como jornalista testemunhei-a não só na leitura dos seus textos, mas também nas várias entrevistas que lhe concedi durante a minha vida política.
Aprendi, assim, não só a estimá-lo, mas, também, a admirá-lo.
Lembro-me como se fosse hoje do primeiro encontro com ele, numa das primeiras noites de fecho do Expresso, no corredor do terceiro andar da rua Duque de Palmela: era «o arquiteto», «o diretor», como as suas secretárias lhe chamavam.
Conservador nos costumes, mas sempre transgressor e irreverente na inovação, o José António vivia com gosto essa aparente contradição.
Eu era estafeta, ele era o diretor do jornal mais importante do país. Ficámos amigos até sempre. Com ele aprendi o que é ser livre e não ir na carneirada, mesmo que isso nos traga muitos inimigos. Sempre me deixou escrever o que pensava, apesar de ele discordar abertamente de mim.
A sua influência manter-se-ia até ao dia de hoje, sendo uma marca indelével na qualidade do jornal que é apresentado semanalmente aos nossos leitores.
Tinha ideias fortes e defendia-as até um ponto em que parecia apostar somente na diferença e na originalidade, mas, sob a sua direcção, a liberdade e a tolerância não foram palavras vãs; tornaram-se uma prática e um doutrina.