iveth mafundza começou cedo no associativismo, a lutar pelos direitos humanos, mas também por um lugar no hip hop, universo musical tipicamente masculino.
editado há um mês, com 20 faixas, o convite traz «mensagens relativas à sociedade no geral, a áfrica, à juventude moçambicana e, principalmente, relativas à mulher», explica à lusa a artista.
a poucos dias de viajar para genebra, onde representou a sociedade civil moçambicana na apreciação do conselho de direitos humanos das nações unidas face à situação de moçambique, a activista social recorda o destino que, por si só, se foi traçando.
de áfrica do sul, o pai trazia «muita música», alimentando-lhe o sonho de um dia «poder pegar no microfone e dizer qualquer coisa de interessante», relembra iveth, que vê na cantora norte-americana lauryn hill «tudo aquilo que um dia gostaria de ser».
a rapper não teve possibilidades financeiras para se formar musicalmente, mas foi construindo, a pouco e pouco, uma carreira que começou aos 13 anos, num grupo feminino de hip hop, de maputo.
cerca de quatro anos depois, num outro grupo da capital, iniciou-se então no rap interventivo, ao mesmo tempo que na faculdade era sempre chamada a tratar dos assuntos relativos aos direitos da mulher.
«nunca entendi bem porquê», confessa a rapper que curiosamente começou por escrever (poemas e depois letras) sobre o amor.
mas quis também o destino, mais uma vez, que conseguisse um estágio na associação moçambicana das mulheres de carreira jurídica, que presta assistência jurídica a mulheres em situação desfavorável, da qual é hoje directora executiva.
conciliar tudo não é fácil: reserva os fins-de-semana para os espectáculos, obrigatoriamente de «saltos altos», sussurra iveth, sorriso envergonhado, a contrastar com a paixão e convicção com que fala do seu trabalho.
«a minha vertente artística complementa a minha vertente jurídica, porque eu trabalho em direitos humanos e canto direitos humanos», resume.
simples mas elegantemente vestida, afinal, como vinca logo à partida, é uma rapper «muito feminina», iveth é também uma «feminista assumida».
«feminista no sentido de que luto pelos direitos da mulher, luto por mim, pelas outras. e ao lutar por mim e pelas outras, estou a lutar por uma sociedade melhor», explica.
por isso, e depois de em 2009 ter editado o single amiga, onde relata a história de uma mulher vítima de violência doméstica, a artista está agora a promover o novo álbum, igualmente dedicado às causas sociais e tradições africanas.
a mensagem, acredita, «está a passar». «inclusive, uma estudante minha já me disse, no final de um aula, que tudo aquilo que eu disse (na música) ela passava (no dia a dia)», recorda.
quase a esgotar em moçambique, o convite está também à venda em angola e, talvez ainda em fevereiro, possa chegar a portugal e ao brasil.
e enquanto o convite não chega à europa, iveth vai continuar o seu trabalho, ao mesmo tempo que já pensa e escreve as músicas do próximo álbum.
mas «deixar de ser artista», ou de falar de direitos humanos, isso «não pode», assegura.
lusa / sol