Triplo homicídio: mulher do suspeito estava em Portugal na data do crime

Em interrogatório realizado ontem, Dinai Gomes e a sua mulher negaram qualquer ligação à morte de Michele Santana, Lidiana Neves e Thayane Milla, mas não souberam esclarecer algumas contradições. O responsável pela investigação falou  em exclusivo ao SOL

A mulher do suspeito de ter matado as três brasileiras em Cascais estava em Lisboa no dia apontado pela Polícia Judiciária como sendo a data provável dos crimes. Chegou a Portugal no dia primeiro de fevereiro, revelou em exclusivo ao SOL o delegado Roberto Câmara, responsável pela investigação.

Segundo o SOL conseguiu apurar junto de fonte da investigação, ela foi interrogada ontem, em Belo Horizonte, tendo negado sempre qualquer envolvimento no assassinato das três mulheres. O SOL sabe que, ainda que não seja conhecido o nome desta mulher, a mulher já viveu em Portugal e estava a trabalhar quando foi conduzida pelos investigadores brasileiros.

O delegado responsável explicou que Dinai Gomes também foi interrogado ontem, sem a presença de qualquer advogado, tendo negado ser ele o autor do crime. Ainda assim, nunca conseguiu responder de forma satisfatória aos elementos da Polícia federal brasileira.

“Dinai não soube esclarecer as diversas contradições apuradas pela investigação em Portugal”, afirmou o responsável.

O interrogatório aconteceu durante toda a tarde de ontem, depois de a polícia daquele país ter levado a cabo várias diligências, entre as quais a detenção de Dinai Gomes, buscas domiciliárias e ainda a condução da sua atual companheira às instalações da Polícia Federal de Minas Gerais.

Como o i noticiou ontem, Dinai estava a trabalhar numa obra quando foi preso por elementos da Policia Federal.

Provas informais

Os dados que a Polícia Judiciária enviou nos últimos meses para o Brasil foram já suficientes para as autoridades daquele país terem optado pela prisão provisória do suspeito, mas o delegado explica que, para a continuação da investigação, é agora fundamental que as provas estejam “formalmente” enviadas. Isto porque a “intenção de troca de informações” entre a Judiciária e a Polícia Federal tem acontecido de forma informal, não sendo possível ainda, por isso, juntar esses dados recolhidos em Portugal – a que a Polícia Federal teve acesso de forma informal – ao processo que decorre naquele país.

“Nós precisamos de formalizar o acesso à íntegra da investigação feita pela polícia portuguesa”, adiantou ao SOL o delegado Roberto Câmara. “Ainda não sabemos quando será feito o envio formal dos indícios já recolhidos”, acrescentou.

O responsável pela investigação no Brasil refere ainda que se aguarda os resultados das três autópsias, bem como de exames preliminares que estão a ser feitos em Portugal, para que se possa determinar ao certo a causa das mortes.

Ainda que não seja possível saber neste momento qual foi o motivo que levou Dinai Gomes, também cidadão brasileiro, a assassinar Michele Santana, Lidiana Neves e Thayane Milla, para a polícia brasileira parecem ficar cada vez mais descartadas questões relacionadas com a homofobia do suspeito – duas das mulheres mortas tinham uma relação –, ou mesmo a possibilidade que chegou a ser avançada de em causa estarem ligações ao crime de tráfico de seres humanos. Com muitas cautelas, outras fontes da investigação brasileira dizem que o mais provável será mesmo que este se trate de um crime passional.

Uma investigação, dois países

A Polícia Federal tem encontrado algumas dificuldades no avanço das investigações, uma vez que grande parte da investigação corre em Portugal: o crime aconteceu em Portugal e as vítimas viviam em Portugal há vários anos, apesar de serem brasileiras.

“A nossa investigação foi aberta em razão de o principal suspeito ter viajado para território brasileiro após os crimes”, esclareceu o delegado Roberto Câmara, clarificando que o facto de estarem a correr investigações nos dois países ao mesmo caso dificulta obviamente o andamento do processo.

Fontes da Polícia Federal não envolvidas nesta investigação, mas conhecedoras de outros casos em que houve cooperação entre as autoridades brasileiras e portuguesas, explicam ao SOL que, dadas as diferenças notórias que existem entre uma polícia como a PJ e outra como a Polícia Federal, estas podem conduzir a algumas adaptações. Uma delas é, por exemplo, a relação com os meios de comunicação social. Neste caso em concreto, as mesmas fontes dizem ser percetíveis as cautelas da polícia brasileira na divulgação da informação, o que possivelmente está a ser feito para respeitar o sigilo característico das investigações levadas a cabo pelas autoridades portuguesas.