As contas finais ainda não foram divulgadas, mas os dados recolhidos ao longo do último ano deixam-nos à vontade para falar de algo inevitável: 2016 vai ser mesmo considerado o ano mais quente de sempre, fazendo assim jus a uma linha de aquecimento quase constante e que compila, neste século, catorze dos quinze anos mais quentes da história.
Além de uma emissão de gases com efeitos de estufa que já não é novidade – e que em Portugal resultou na emissão de de 27,9 milhões de toneladas de CO2, mais 15,6% do que em 2014 – 2016 foi ano de ‘El Niño’ e das habituais subidas de temperatura associadas ao fenómeno.
Vai daí que o final de cada mês tenha sido sinónimo de notícia a dar conta de mais um recorde batido, mesmo quando a época de temperaturas altas ainda ia longe.
Senão vejamos. Segundo a Agência Oceânica e da Atmosfera (NOAA) norte-americana, os recordes de calor estão a ser batidos há 16 meses consecutivos, algo que nunca tinha acontecido antes. E se os primeiros meses de 2016 já faziam suspeitar que estaríamos a viver um ano de extremos, a confirmação chegou com o verão. Os dados da NASA deram conta de que o último agosto foi o mais quente desde há 136 anos, quando se começaram a fazer os primeiros registos.
Portugal não escapou a esta onda de calor e, no dia 8 de agosto, os termómetros marcavam 44,8ºC em Moura, no Alentejo, contribuindo assim para o agosto em que o valor da temperatura máxima foi o mais elevado desde 1931 (primeiro ano em que há registos).
Mesmo assim, o país teve que esperar até 6 de Setembro para registar o seu dia mais quente, quando os valores médios da temperatura máxima atingiram os 38,6 graus. A partir daí, os valores altos mantiveram-se, com os meses entre Junho e Outubro a registar valores da temperatura máxima “muito superiores ao normal”, revela o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
E agora?
Infelizmente, não há passas suficientes para fazer cumprir os desejos relativos a uma melhoria das condições ambientais e a meia-noite de passagem de ano estará longe de apagar um passado de maus anos para o clima.
A tendência será de calor, como seria de esperar, mas desta vez sem direito a recordes. Quem o diz são os especialistas que têm vindo analisar as tendências dos últimos tempos para projetar o ano que agora começa.
Sem ‘El Niño’, que se foi dissipando na segunda metade do ano passado, as temperaturas vão manter-se altas – acima da média do século passado – mas um pouco abaixo do que foi atingido nos últimos meses. Segundo o Met Office, o instituto de meteorologia britânico, a temperatura deste ano deverá ser 0,63ºC a 0,87ºC superior à média.
Os investigadores do instituto não se deixam entusiasmar com os valores mais baixos previstos para este ano, uma vez que trabalham com uma comparação desleal: 2016 teve registos fora do comum, com a temperatura 0,86 graus acima da média. Com este ponto de partida, quase só é possível melhorar.
“A tendência de menor temperatura para 2017 é muito menor que o aumento previsto a longo prazo”, refere Adam Scaife, chefe de previsão do Met Office.
E nem o ‘El Nino’ serve de desculpa, uma vez que segundo o especialista, o fenómeno é responsável pelo aumento de apenas 0,2ºC na temperatura global de 2016 – tudo o resto acontece graças ao aumento de emissão de gases com efeito de estufa.
2017 começa bem
Apesar da chuva de ontem ter fugido à regra de um Inverno de sol, o início de 2017 é, para já, de boas notícias.
Os alertas do IPMA, que deixaram ontem vários distritos do país de sobreaviso, hoje já não são mais que avisos de aguaceiros e alguma trovoada durante a manhã.
“A partir da tarde, o tempo volta a melhorar e prolonga-se, pelo menos, até ao início da próxima semana”, garante ao i a meteorologista Cristina Simões.
Assim, a partir de quarta, a chuva tem um fim definitivo, o vento passa a fraco e o céu a pouco nublado. Em contrapartida, há uma descida da temperatura que apesar de não dar direito recordes, faz o país regressar à normalidade do que é típico de um janeiro.