A vida vai continuar a ser difícil para quem quiser andar de carro pelo Algarve. As obras na Estrada Nacional 125 (EN125) vão continuar a provocar constrangimentos no tráfego, o que não podia preocupar mais os empresários desta zona e os próprios utilizadores. Até porque para muitos, o Governo fala de uma rápida conclusão das obras, mas é «só para inglês ver».
A questão das obras na EN125 não é nova e fez com que, esta semana, a Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) apelasse à suspensão da cobrança de portagens na A22/Via do Infante até que as obras na EN125 estejam concluídas. Além disso, para a associação é importante que seja feito um debate alargado sobre o sistema da cobrança de portagens no interior.
De acordo com João Soares, representante da AHP no Algarve, «é incompreensível a cobrança de portagens na A22/Via do Infante quando a alternativa não está a funcionar a 100%, condicionando fortemente a distribuição de trânsito em toda a região. Até as obras da EN125 ficarem concluídas – cabendo ao Governo pressionar para que isso aconteça – a cobrança das portagens na A22 deveria ser suspensa ou, no mínimo, o aumento não deveria entrar em vigor».
Também o representante da AHP no Centro, Luís Veiga, questiona o modelo de exploração de portagens nas ex-Scut. «As portagens têm um impacto direto nas viagens de lazer e férias dos turistas, dificultam a captação e fidelização dos mesmos e oneram a operação dos agentes turísticos. Isto a par de agravar os custos económicos na distribuição de produtos e bens. É ainda mais grave quando cerca de 30% das receitas das portagens são para suportar os custos do atual modelo de funcionamento (os pórticos)».
Além disso, para os representantes da hotelaria em Portugal há uma outra questão que deve ser tida em conta: as portagens dificultam o combate à desertificação do interior. «Quando o Governo lança um programa de 164 medidas para combater a desertificação do interior e a questão das portagens não é sequer ponderada há algo que falha em todo o programa», explica a AHP. Em última instância, está em questão «o facto de que estas barreiras contribuem fortemente para o atual desequilíbrio entre regiões e retiram atratividade ao investimento turístico no interior».
A ameaça de verão
Já no ano passado, as obras na EN125 eram uma das maiores preocupações para empresários e utilizadores da via. O Presidente da Associação dos Hotéis e Empreendedorismos Turísticos do Algarve (AHETA) antecipava uma situação complicada para quem escolhesse o Algarve no verão. «Tudo está a ser feito de uma forma que não deixa ninguém saber nada. Se já há dificuldades porque a circulação está a ser feita de forma alternada, a partir de agora só vai piorar porque a procura aumenta sempre nos meses que aí vêm», explicava Elidérico Viegas ao SOL, frisando que as expectativas apontavam para um aumento do número de turistas. Um cenário que volta a estar em cima da mesa este ano e que preocupa quem vê nestas obras um problema que se vem a arrastar de ano para ano.
Requalificação atrasada
A requalificação da EN 125 foi adjudicada em 2009 ao consórcio Rotas do Algarve Litoral. A ideia era fazer um conjunto alargado de intervenções para acabar com o estacionamento nas bermas da estrada e facilitar o escoamento do trânsito, num projeto que implicava a criação de cerca de 60 rotundas e a construção de variantes em Lagos e Faro. Mas o projeto foi sendo adiado ao longo dos anos e só arrancou definitivamente em 2015, numa versão mais curta e muito mais barata. Entretanto, a circulação automóvel na EN125 aumentou muito com a introdução de portagens na Via do Infante, em dezembro de 2011.
Com as obras, muitos troços da EN125 acabaram por ficar com o tráfego condicionado: «As obras têm de ser feitas e até é pena que uma parte da EN125 não esteja a ser considerada. Mas há problemas que têm de ser tidos em conta».
Face ao «caos instalado» e aos prejuízos que os trabalhos têm causado à população e à atividade económica, a AHETA considerava, em maio do ano passado, que estas obras de requalificação da EN125 «configuram incompetência, falta de zelo e, em última análise, gestão danosa, exigindo a situação atual um rigoroso apuramento de responsabilidades».
A Infraestruturas de Portugal (IP), empresa pública que gere as concessões rodoviárias, respondia à contestação lembrando que se tratava de um obra de importância fulcral para o Algarve.
Em maio de 2016 já não era novidade a contestação por causa das portagens na Via do Infante. A Associação do Comércio e Serviços da Região do Algarve explicava que não se podia ter obras paradas ou a decorrer a um ritmo muito lento. Era importante conseguir ter a EN125 requalificada quando chegasse a época alta. Mas não aconteceu. Com as obras, as empresas, os profissionais e residentes que utilizam a estrada continuam a «ter de ser desviados obrigatoriamente para a Via do Infante – e isso traz custos enormes».
Elidério Viegas não esconde que, em relação ao que se passava no ano passado, a situação só piorou. «O Governo anunciou o início das obras agora para janeiro e a ideia era que estivessem acabadas na Páscoa. Mas estão a começar a conta gotas, com um ou outro homem a trabalhar. No fundo, é para inglês ver». Além de não haver data para o fim deste problema, também se soma o facto de as portagens na Via do Infante terem aumentado em janeiro deste ano. Recorde-se que Pedro Marques esteve este mês no Algarve para anunciar o recomeço das obras no troco entre Lagos e Vila do Bispo.