Presidente da SAD do Leiria suspeito de pertencer à máfia russa

A Operação Matrioskas, realizada ontem pela Polícia Judiciária e que levou à detenção do presidente da SAD do União de Leiria, Alexander Tolstikov, integra-se numa investigação internacional a máfias russas que operam no setor do futebol, segundo revelou hoje a Europol.

O Serviço de Polícia da União Europeia avança que os arguidos ontem detidos pelas autoridades portuguesas constituem “uma célula” ao serviço de “uma organização criminosa internacional, composta na sua maioria por cidadãos russos que se dedicam à lavagem de dinheiro através do futebol”.

Segundo a Europol, a organização mafiosa russa está ativa desde 2008, estimando-se que é diretamente responsável pelo branqueamento de muitos milhões de euros em diversos países da Europa, dinheiro que tem origem em crimes praticados fora da União Europeia.

A forma de atuação da organização consiste, precisamente, em identificar clubes de futebol em dificuldades financeiras – como é o caso do União de Leiria –, “infiltrá-los com benfeitores disponíveis para fazer doações ou investir” muito dinheiro. Depois de assim ganharem a confiança, “esses ‘testas-de-ferro’ montam uma operação de compra dos clubes”, tendo por trás uma intrincada teia de transferências financeiras entre empresas sediadas em paraísos fiscais e cujos donos, nunca identificados, é que controlam os clubes. Foi assim que o União de Leiria caiu nas malhas desta organização, diz a Europol, em julho de 2015.

Ainda segundo o Serviço de Polícia da UE, Alexander Tolstikov e co-arguidos deram nas vistas pelos sinais exteriores de riqueza e, sobretudo, pela “importação de largas quantias em dinheiro da Rússia para Portugal, em violação das regras europeias”.

“Três membros-chave da organização”

A investigação à célula portuguesa desta máfia russa dura há mais de um ano e a operação de buscas e detenções ontem realizada contou com o apoio no terreno de especialistas da Europol. Os três detidos são classificados pela Europol como “membros-chave da organização” e foram apreendidos milhares de euros em dinheiro, “a maioria em notas de 500 euros” (notas cuja circulação disparou nos últimos anos e que a União Europeia planeia retirar, precisamente como forma de combater o branqueamento de capitais).

Segundo a Procuradoria-geral da República, o inquérito tem seis arguidos constituídos: quatro pessoas (três das quais estão detidas, nomeadamente o presidente da SAD do Leiria) e duas empresas.  Em causa estão suspeitas da prática de  crimes de fraude fiscal, associação criminosa, branqueamento de capitais, corrupção e falsificação de documentos.

Através do apoio da Europol foi possível “identificar ligações internacionais a crimes complexos e organizados cometidos na Áustria, Estónia, Letónia, Alemanha, Moldávia e Reino Unido”.