Mariano Rajoy pediu ontem desculpas aos espanhóis pelos casos de corrupção que afectam o PP. Pela segunda vez desde que é o líder do Governo.
Pressionado pelo seu próprio partido, ontem, no Senado declarou: “Em nome do PP quero pedir desculpas a todos os espanhóis por ter colocado em cargos de que não eram dignos quem aparentemente abusou deles”.
“Entendo e partilho completamente a indignação dos cidadãos, lamento profundamente a situação criada. Compreendo o cansaço dos espanhóis, estes casos são particularmente dolorosos num momento em que tiveram que fazer tanto esforço e sacrifício para tirar o país da crise”, acrescentou no que foi lido como uma reviravolta, uma vez que havia evitado pronunciar-se sobre o tema da corrupção.
Em causa, até segunda-feira, estava a utilização indevida de milhões de euros em cartões de crédito da entidade financeira Bankia em que, entre outros, está envolvido Rodrigo Rato, ex-vice-presidente do Governo popular de José María Aznar, ex-director do Fundo Monetário Internacional e actual presidente demissionário da Caja Madrid.
E ainda o caso Bárcenas, um caso de contabilidade paralela mantida durante anos no PP revelado em 2013 pelos jornais El Mundo e El Pais.
Mas na segunda-feira rebentava outro escândalo envolvendo elementos do Partido Popular: a operação Púnica. E este tornou impossível que primeiro-ministro espanhol continuasse calado.
A operação Púnica é uma rede de corrupção desmantelada pelas autoridades e que envolve dezenas de políticos e empresários, de que o nome mais marcante é o antigo número dois do PP de Madrid, Francisco Granados. Foram detidas 51 pessoas por causa deste esquema em que políticos (a maioria do partido no Governo) das regiões de Madrid, Múrcia, Valência e Leão, estão acusados de cobrar comissões entre 2 a 3% de contratos que celebravam.
Aparentemente, funcionava assim: os responsáveis municipais alteravam concursos públicos para favorecer empresas que lhes pagariam luvas; estas ganhavam as propostas e pagavam o valor acordado aos decisores; as verbas que estes recebiam eram integradas num complexo esquema de branqueamento de capitais e serviam para benefício próprio, não partidário. Concursos no valor de 250 milhões de euros foram adjudicados nos últimos dois anos, através de intermediários.
Em mais um escândalo que envolve políticos e que volta a abanar a Espanha, estão presos os presidentes de câmara de seis municípios da região de Madrid. Quatro do PP, um do PSOE e outro da Unión Demócrata Madrileña (UDMA).
Mas já em 2013, Rajoy tinha sido obrigado a pedir desculpas por outra polémica envolvendo o seu partido, desta vez com o antigo tesoureiro do PP, Luis Bárcenas, no centro do furacão. Em Agosto desse ano, depois de semanas a recusar comentários sobre o tema, disse no Parlamento: “Enganei-me, lamento mas foi o que sucedeu”.
Um pedido de desculpas depois de ser revelado o esquema de contabilidade paralela de pagamentos que o tesoureiro anotava à mão em cadernos. Há nota de registos entre 1990 e 2009, anos em que foram feitos ‘por fora’ pagamentos a altos responsáveis do partido, construídas sedes ou compradas acções de empresas. O dinheiro provinha de donativos ilegais, nomeadamente de empresas de construção civil. Alguns dos beneficiados já reconheceram o recebimento de quantias.
Um dos nomes que consta das listas é o próprio Mariano Rajoy, que sempre recusou ter recebido qualquer verba ilegalmente.
E um dos mais recentes implicados é Ángel Acebes, antigo secretário-geral do PP e ministro da Justiça e Interior do Governo de José María Aznar. Acebes foi acusado judicialmente a 21 de Outubro por suspeita de ter autorizado o uso de 450 mil euros da contabilidade paralela, entre 2004 e 2005, para comprar acções do jornal online Libertad Digital.
Foto: Juanjo Martin/EPA