“Uma mulher que rejeita a maternidade, que se abstém de estar por casa, independentemente de quão bem-sucedida a sua vida profissional seja, é deficiente, é incompleta, falta-lhe algo, é meia pessoa. Não importa quanto sucesso tenha no mundo dos negócios. Rejeitar a maternidade significa rejeitar a humanidade. Famílias fortes conduzem a nações fortes”, foram as palavras precisas deste pai de quatro, numa intervenção na inauguração do novo edifício da Associação Turca para as Mulheres e para a Democracia. Na mesma intervenção, Erdogan ainda aconselhou cada turca a ter, pelo menos, três filhos. A bem do país, claro está.
Perante estas palavras, de imediato as redes sociais se inflamaram e os comentários negativos se multiplicaram. Não venho – nunca o poderia fazer – defender as palavras animalescas de Erdogan. O que venho, isso sim, é questionar a indignação de muitos que dizem ser uma atitude terceiro mundista. Isto porquê? Pela simples razão que já assisti, inúmeras vezes, a esta mesma atitude no chamado primeiro mundo. Talvez as palavras sejam mais polidas, mas os olhares ilustram o mesmo pensamento. Já o senti na pele. Tudo porque tenho 37 anos e não tenho filhos. Até aos 30, sempre que alguém me questionava acerca deste assunto e respondia que nunca tinha sentido esse desejo, a resposta era invariavelmente “vais ver que isso te passa”, como se de uma doença se tratasse. Quando passei a ser trintona, o olhar transformou-se em algo que funde o coitadinha-que-não-sabe-o-que-diz com o deve-ter-algum-problema e o assim-és-menos-mulher. Nunca ouvi uma reação que não viesse imbuída desta carga. Ou seja, mais do que na forma bárbara como Erdogan se refere a este assunto, o problema está na forma bárbara como o mundo tende a cobrar às mulheres. Sob o risco de sermos menos mulheres se não o fizermos.