Nuno Lopes vence prémio de melhor ator em Veneza

No último filme de Marco Martins, em competição na secção Orizzonti, o ator português é um boxeur que se vê obrigado a aceitar um trabalho de cobranças difíceis. “São Jorge” chega às salas nacionais no final de novembro.

Há anos que se falava no filme que aí vinha em que Nuno Lopes seria boxeur, e há anos que Nuno Lopes começou a treinar para isso. O boxe. Desejo antigo do ator a que Marco Martins, que conheceu em “Alice” (2005), veio dar forma neste “São Jorge”, em competição nesta edição do Festival Internacional de Cinema de Veneza, que termina este sábado, e que lhe deu o prémio especial de melhor ator, na secção Orizzonti, pelo papel de Jorge, um boxeur que, para sobreviver, começa a cobrar dívidas.

No discurso, Nuno Lopes agradeceu à sua família pelo prémio, que dedicou ao realizador Marco Martins e aos moradores dos bairros da Jamaica e da Bela Vista, “os verdadeiros heróis deste filme”. É preciso olhá-lhos como seres humanos, não como números, defendeu, acrescentando que se o poder começar a ouvi-lhos talvez aí “se possa começar a falar da Europa”.

Na nota enviada à imprensa, a Filmes do Tejo II, que produziu esta que é a segunda colaboração entre Nuno Lopes e Marco Martins, explica que para a preparação do papel, o ator, conhecido pela forma como mergulha nas suas personagens, fez trabalho de pesquisa em bairros sociais, no meio do boxe e no circuito das cobranças difíceis. Para o papel, “o ator ganhou 20 quilos e submeteu-se a um programa de treino físico durante seis meses, chegando na fase de maior intensidade a treinar seis horas diárias de boxe e crossfit”, acrescenta a nota da Filmes do Tejo II.

A amizade com Marco Martins tem mais de dez anos. Conheceram-se em “Alice”, que lhe deu o primeiro Globo de Ouro de melhor ator em Portugal, ao qual se juntariam outros dois (pelos seus papéis em “Goodnight Irene”, em 2009, e “Linhas de Wellington”, em 2013), para o qual Nuno Lopes foi escolhido por casting. “Como em quase tudo na minha vida”, recordou numa entrevista que deu em março ao SOL, quando “São Jorge” ainda estava a ser terminado. “Gosto de fazer castings, adoro. Acho que parte da minha sorte como ator tem a ver com isso.” Sobre “São Jorge”, do qual falou já nessa entrevista, disse estar “ansioso” para que o filme, que chega às salas portuguesas no final de novembro, saísse. “É um trabalho do qual me orgulho muito.”

"São Jorge" era o único filme português a competição nesta edição do festival de Veneza, em que foi ainda exibido o franco-português “À Jamais”, de Benoît Jacquot, produzido por Paulo Branco, mas fora de competição. 

O júri da secção Orizzonti (Horizontes), dedicada a filmes que representam novas tendências estéticas e expressivas do cinema mundial, com especial enfoque na produção independente, é presidido pelo realizador francês Robert Guédiguian e integra ainda o crítico norte-americano Jim Hoberman, a atriz egípcia Nelly Karim, a italiana Valentina Lodovini, a atriz e realizadora coreana Moon So-ri, o académico e crítico espanhol José Maria Prado e o realizador indiano Chaitanya Tamhane.

Notícia atualizada às 20h02.