Há anos que se falava no filme que aí vinha em que Nuno Lopes seria boxeur, e há anos que Nuno Lopes começou a treinar para isso. O boxe. Desejo antigo do ator a que Marco Martins, que conheceu em “Alice” (2005), veio dar forma neste “São Jorge”, em competição nesta edição do Festival Internacional de Cinema de Veneza, que termina este sábado, e que lhe deu o prémio especial de melhor ator, na secção Orizzonti, pelo papel de Jorge, um boxeur que, para sobreviver, começa a cobrar dívidas.
No discurso, Nuno Lopes agradeceu à sua família pelo prémio, que dedicou ao realizador Marco Martins e aos moradores dos bairros da Jamaica e da Bela Vista, “os verdadeiros heróis deste filme”. É preciso olhá-lhos como seres humanos, não como números, defendeu, acrescentando que se o poder começar a ouvi-lhos talvez aí “se possa começar a falar da Europa”.
Na nota enviada à imprensa, a Filmes do Tejo II, que produziu esta que é a segunda colaboração entre Nuno Lopes e Marco Martins, explica que para a preparação do papel, o ator, conhecido pela forma como mergulha nas suas personagens, fez trabalho de pesquisa em bairros sociais, no meio do boxe e no circuito das cobranças difíceis. Para o papel, “o ator ganhou 20 quilos e submeteu-se a um programa de treino físico durante seis meses, chegando na fase de maior intensidade a treinar seis horas diárias de boxe e crossfit”, acrescenta a nota da Filmes do Tejo II.
A amizade com Marco Martins tem mais de dez anos. Conheceram-se em “Alice”, que lhe deu o primeiro Globo de Ouro de melhor ator em Portugal, ao qual se juntariam outros dois (pelos seus papéis em “Goodnight Irene”, em 2009, e “Linhas de Wellington”, em 2013), para o qual Nuno Lopes foi escolhido por casting. “Como em quase tudo na minha vida”, recordou numa entrevista que deu em março ao SOL, quando “São Jorge” ainda estava a ser terminado. “Gosto de fazer castings, adoro. Acho que parte da minha sorte como ator tem a ver com isso.” Sobre “São Jorge”, do qual falou já nessa entrevista, disse estar “ansioso” para que o filme, que chega às salas portuguesas no final de novembro, saísse. “É um trabalho do qual me orgulho muito.”
"São Jorge" era o único filme português a competição nesta edição do festival de Veneza, em que foi ainda exibido o franco-português “À Jamais”, de Benoît Jacquot, produzido por Paulo Branco, mas fora de competição.
O júri da secção Orizzonti (Horizontes), dedicada a filmes que representam novas tendências estéticas e expressivas do cinema mundial, com especial enfoque na produção independente, é presidido pelo realizador francês Robert Guédiguian e integra ainda o crítico norte-americano Jim Hoberman, a atriz egípcia Nelly Karim, a italiana Valentina Lodovini, a atriz e realizadora coreana Moon So-ri, o académico e crítico espanhol José Maria Prado e o realizador indiano Chaitanya Tamhane.
Notícia atualizada às 20h02.