Primeira semana de janeiro regista o maior número de mortos dos últimos dez anos

A primeira semana de janeiro registou o maior número de mortes no país dos últimos dez anos. Até aqui, o recorde tinha sido registado na terceira semana de janeiro de 2015.

Paulo Nogueira, diretor do serviço de informação e análise da Direção Geral da Saúde, explicou ao SOL que uma população cada vez mais envelhecida e o facto de, este ano, o vírus da gripe dominante ter sido do subtipo A(H3) – historicamente associado a maior mortalidade entre idosos – contribuem para o fenómeno. Na primeira semana do ano, revelou o responsável, morreram em Portugal 3363 pessoas, mais 200 do que na semana de 2015 que até aqui detinha o máximo na última década.

Todos os invernos morrem mais pessoas do que nos meses do verão. Ainda assim, há anos em que o frio e a gripe são associados a mais mortes do que é expectável, uma vez que a média aponta para 2500 óbitos em cada semana dos meses mais frios.

O inverno de 1998/1999 foi o mais letal desde que há registos no país. Nesta última década, os invernos de 2011/2012 e 2014/2015 tinham sido, até aqui, os mais severos. Há dois anos, houve 5591 mortes acima do esperado. Paulo Nogueira sublinha que esse balanço, este ano, ainda não pode ser feito. «Apesar de termos registado um pico de mortalidade mais elevado, um balanço acima ou abaixo de 2014/2015 vai depender do ritmo de diminuição dos casos de gripe».

A boa notícia é que a época gripal parece estar a ser mais ‘rápida’. O Instituto Ricardo Jorge confirmou que os casos começaram a diminuir, pelo que, a manter-se a tendência, a fase mais crítica já terá passado. «Acreditamos que a melhor taxa de vacinação este ano possa ter contribuído para uma época gripal mais curta», diz Nogueira.

O Estado adquiriu 1,2 milhões de vacinas e foram praticamente todas utilizadas pelos grupos de risco, que incluem idosos e doentes crónicos. De acordo com dados do Instituto Ricardo Jorge, houve 106 doentes internados em cuidados intensivos por complicações motivadas pela gripe.

Nogueira sublinha que, tendo em conta o vírus, este número poderia ter sido mais elevado, até porque noutros anos em que a gripe era ‘mais benigna’ foi superior. Isso e o facto de a procura às urgências ser, por esta altura, idêntica à do ano passado – em que a época gripal foi menos severa – levam o especialista da DGS a concluir que a resposta montada pelos serviços de saúde, e a estratégia de vacinação e informação da população, estão no bom caminho. «Teremos sempre picos de mortalidade, sobretudo com uma população cada vez mais envelhecida e vulnerável em que o que vemos, nestas alturas, é um precipitar da morte. Mais de 85% das pessoas que morreram tinha mais de 65 anos e a maioria mais de 85. O objetivo é evitar o que é possível ser evitado e conseguir ter números mais baixos».