«Portugal tem uma pequena economia aberta ao exterior». Esta afirmação foi repetida inúmeras vezes, incluindo por mim. Mas até há alguns anos ela era pouco verdadeira.
Houve um tempo em que se podia dizer que a nossa economia era predominantemente fechada e agrícola. Era o que convinha ao regime de Salazar. E explica, por exemplo, Portugal não ter sofrido grande abalo com a Depressão dos anos 30.
Nos anos 50, porém, Salazar a contragosto teve que abrir um pouco a economia nacional ao exterior. Começou por rejeitar o Plano Marshall (factor importante na génese da integração europeia), mas depois reconsiderou e Portugal também recebeu ajuda desse plano. Entretanto, a pressão dos industriais, que começaram então a ter alguma força, ia no sentido de que, dada a reduzida dimensão do nosso mercado interno, precisavam de acesso a mercados internacionais (os coloniais tinham escasso poder aquisitivo). Assim, Portugal conseguiu ser um dos fundadores da EFTA, em 1959.
Na década de 60 do séc. XX até ao primeiro choque petrolífero em 1973 as exportações para países da EFTA foram um dos motores do maior período de crescimento económico da nossa história. Outros fatores se conjugavam para uma maior abertura da sociedade e da economia em Portugal. A grande emigração para a Europa, a vinda de turistas de outros países, o investimento estrangeiro, tudo isso começou a abrir o país ainda antes do 25 de abril.
Depois, a adesão à então CEE (hoje UE) consolidou a democracia em Portugal. Mas a entrada no euro, acabando com as desvalorizações do escudo em que muitas empresas se haviam viciado para se manterem competitivas, teve um efeito perverso: levou parte dos empresários a refugiar-se no mercado interno, desistindo de exportar. Com a austeridade imposta pela «troika», que reduziu o poder de compra dos portugueses, essa tendência inverteu-se, felizmente. Numerosas empresas voltaram-se nessa altura para a exportação, ganhando quotas de mercado.
A crise da UE e o «Brexit» que a agravou perigosamente ensombram, agora, a perspetiva das exportações portuguesas. Até porque não existe a alternativa de intensificar as vendas para os países lusófonos, pelo contrário: Angola, o Brasil e até Moçambique encontram-se em situação difícil. Nos Estados Unidos a tendência protecionista manifesta-se não apenas em Trump como também, embora menos, em Hillary Clinton, nas concessões a Bernie Sanders para unir o partido democrático.
É verdade que, como disse A. Costa, por enquanto não há entraves na exportação para a Grã-Bretanha. Só que essa é uma típica observação das vistas curtas dos políticos: quem arrisca investir, desconhecendo o que se passará daqui a alguns anos na UE e nas suas relações com os britânicos?… O investimento empresarial tem vindo a cair e cairá mais com a incerteza presente. Imagine-se o desastre que seria cortarem-nos os fundos de Bruxelas.
Há incerteza quanto ao futuro da UE e às relações que terá com o Reino Unido (que poderá desunir-se), situação suscetível de durar anos. Também existe incerteza quanto ao mercado espanhol, o nosso principal cliente, que cresceu bem em 2015, mas depois abrandou por causa da crise governativa.
Uma nova e dinâmica geração de empresários exportadores existe hoje em Portugal. Nos próximos tempos não vão ter vida fácil.
A incerteza quanto ao mercado espanhol, à UE e às relações com a Grã-Bretanha travam a exportação