Mudam-se os tempos, mudem-se as vontades

Podemos e devemos dar respostas a esta heterogeneidade de perfis, provenientes de uma miríade de nacionalidades, enfatizando as suas forças e trabalhando as suas fraquezas.

Nas últimas décadas, o mundo mudou de uma forma vertiginosa. Se para melhor ou pior, muitos poderão fazer especulações e lançar teorias, mas o facto é que uma revolução tecnológica – que segue em curso – modificou a forma como nos relacionamos, como trabalhamos, como acedemos à informação, numa era em que as empresas primam pela automação e introdução da inteligência artificial nos seus processos, acelerando a transformação digital e colocando novos obstáculos à forma como equilibramos a tecnologia com a valorização humana.

Não é possível parar esta evolução extraordinária, que se irá refletir cada vez mais em diversos setores da nossa sociedade, mas há um paradigma demasiado evidente para ser ignorado: a forma como estas mudanças se desenrolam a ritmo acelerado, enquanto continuamos sem cumprir, totalmente, outros aspetos tão fundamentais da nossa vida em sociedade, que por esta altura já deviam ser uma realidade plena e madura. A igualdade de género continua a não estar concretizada no nosso espectro social, nomeadamente naquilo que são as posições de liderança assumidas por mulheres em Portugal. Não sou apologista da liderança por quotas, no sentido em que não podemos designar uma líder feminina só por termos números a cumprir, mas faltam oportunidades por meritocracia que permitam incluir mais pessoas do sexo feminino em cargos de topo.

No meu percurso pessoal, tive alguns momentos de oposição à gestão feminina, especialmente por ter assumido posições de liderança desde muito cedo, mas temos de ganhar a capacidade de nos adaptarmos e acreditarmos em nós, através da qualidade do nosso trabalho e desempenho. Nesses momentos menos positivos, a única forma de sermos ouvidas e ultrapassarmos essa mesma resistência passa por mostrarmos que temos competências de liderança, como qualquer homem.

Num mundo volátil, acelerado, em permanente mudança, precisamos desta capacidade de nos tornarmos visíveis, sem termos vergonha.

Mudar e adaptar são duas palavras que fazem cada vez mais sentido no mundo de hoje. Um mundo onde urge dar resposta a grandes desafios da modernidade, como a multiculturalidade e como devemos incorporar essa nova realidade nas nossas empresas, como podemos dar resposta com ambientes mais igualitários, mais colaborativos, mais ágeis.

Podemos e devemos dar respostas a esta heterogeneidade de perfis, provenientes de uma miríade de nacionalidades, enfatizando as suas forças e trabalhando as suas fraquezas, por empresas com maior equidade e coesão, verdadeiramente capazes de cooperarem com a sociedade, por um presente que não esqueça os valores do passado, mas que os saiba transportar para o futuro.

Os desafios e obstáculos que encontramos na atualidade não estão apenas afunilados em determinadas áreas da sociedade, são o resultado de uma intricada teia de relações e ações, sem as quais não poderemos nunca almejar a paz social e a construção de um futuro de todos e para todos, num espírito colaborativo entre entidades públicas e privadas, homens e mulheres, de todas as culturas e nacionalidades.

CEO da Intelcia Portugal