As investigações prosseguem e há cada vez mais detalhes sobre Mohamed Lahouaiej-Bouhlel, o homem que na passada quinta-feira, dia 14, matou 84 pessoas na Promenade des Anglais, o principal passeio marítimo de Nice.
Sabe-se agora que o ataque foi preparado durante meses e que Bouhlel não o planeou sozinho: tinha cúmplices. A informação foi avançada pelo procurador francês, François Molins, depois de o telemóvel e computador do suspeito terem sido analisados. «A investigação em curso desde a noite de 14 de julho progrediu e não confirmou só a natureza premeditada do ato de Mohamed Lahouaiej-Bouhlel, como estabeleceu que ele beneficiou de apoio e cúmplices», avançou Molins.
São cinco os suspeitos de terem ajudados Bouhlel que já foram detidos. Um deles é o homem para quem o terrorista enviou uma mensagem a pedir armas no dia do ataque.
A autoria do atentado foi assumida pelo Estado Islâmico apenas 72 horas depois. Contudo, esse envolvimento não está ainda esclarecido e Bouhlel poderá ter agido como um ‘lobo solitário’. Para Bernard Cazeneuve, ministro francês do Interior, «parece que [Mohamed] se radicalizou muito rapidamente», acrescentando que «não era conhecido pelos serviços secretos». «Não podemos excluir que era um indivíduo desequilibrado e muito violento», acrescentou Cazeneuve.
O procurador francês François Molins revelou que o atacante «tinha um interesse claro e recente pelo movimento radical islâmico», tendo-se radicalizado sozinho. Durante uma investigação ao computador do Mohamed, foram encontradas imagens «relacionadas com o Islão radical» bem como «pesquisas quase diárias sobre o Alcorão e cânticos religiosos usados pelo Estado Islâmico como ferramenta de propaganda», avançou ainda o procurador.
Apenas quatro dias depois do ataque em Nice, Muhammad Riyad, um menor de 17 anos, refugiado de origem afegã, atacou várias pessoas com um machado e uma faca dentro de um comboio em Wurzburgo, na Alemanha. Quatro pessoas ficaram feridas e o jovem acabou por ser abatido pela polícia enquanto tentava fugir. Desta vez, também o Estado Islâmico reivindicou o ataque.
As autoridades encontraram depois em casa do jovem uma bandeira do grupo terrorista, mas parecem acreditar mais na tese de outro ‘lobo solitário’: «Nós soubemos da reivindicação do Estado Islâmico, mas é preciso dizer que as investigações ainda estão em curso e, até agora, não emergiram indícios sobre uma ligação do jovem de 17 anos com a rede do Estado Islâmico», disse Joachim Herrmann, ministro do Interior.
Riyad tinha entrado na Alemanha há pouco mais de um ano sem família e, depois de habitar um centro de acolhimento, estava a viver há poucas semanas com uma família. Segundo o ministro, o jovem «raramente ia à mesquita e, aparentemente, não seria um radical». Para Herrmann, «pode ser uma pessoa que se tenha auto-radicalizado».
Brasil em alerta
Do outro lado do Atlântico, o alerta de ataques terroristas estende-se ao Brasil, onde a 5 de agosto começam os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.
Na quinta-feira, no âmbito da operação ‘Hashtag’, a Polícia Federal deteve dez pessoas suspeitas de estarem a preparar um ataque terrorista durante o evento desportivo. As detenções, segundo o ministro brasileiro da Justiça, Alexandre de Moraes, foram feitas em dez estados diferentes e, nesse sentido, os detidos não teriam contacto pessoal, comunicando apenas através de aplicações como o WhatsApp e o Telegram. Foi exatamente através dessas conversas que foram apanhados.
O ministro da Justiça informou ainda que o grupo, com o nome ‘Ansar al-Khilafah Brazil’, jurou através da aplicação Telegram, lealdade ao líder do Estado Islâmico, Abu Bakr al Baghdadi. Segundo Moraes, nas conversas, os suspeitos comemoraram os atentados de Orlando e de Nice. «De simples comentários sobre o Estado Islâmico eles passaram para atos preparatórios», acrescentou o ministro. Nenhum dos suspeitos teve qualquer contacto direto com a célula terrorista.
Estado Islâmico aproveita ataques?
Em entrevista à Agence France-Presse (AFP), vários especialistas garantiram que, apesar de os mais recentes ataques terem sido assumidos pelo Estado Islâmico, é pouco provável que o grupo terrorista os tenha planeado a partir da Síria e do Iraque. As reivindicações «ajudam a criar um clima de medo e reforçam a ideia de que o Estado Islâmico está na ofensiva, apesar das suas perdas de território», disse Aymenn al Tamimi, especialista em jihadismo do centro de estudos americano Middle East Forum à AFP. Para Will McCants, da Brookings Institution em Washington, os ataques individuais «criam uma paranoia maior do que os atentados diretamente planeados, porque o autor pode ser uma pessoa qualquer».