Para Portugal a manutenção do programa de compra de dívida é uma excelente notícia, pois sem ele as nossas taxas de juro seriam muito mais altas. Todavia, a reação imediata do mercado foi negativa, focando-se na redução do montante do programa: as taxas de juro da dívida portuguesa a 10 anos deram um salto de 0,09% para 3,60%, o que é muito, mas está em linha com a média de juros que Portugal paga no total.
Na conferência de imprensa que se seguiu, Draghi pôs-se claramente do lado das “pombas” e não dos “falcões” da política monetária europeia. Apesar de ter dito que as duas opções que foram discutidas hoje pelo Conselho de Governadores do BCE foram a de estender o programa com compras de 80.000 milhões de euros por mês ou reduzi-lo para 60.000 milhões por mês, Draghi deixou bem claro que eliminar o programa não foi discutido. Por isso, pelo menos até ao fim de 2017, o BCE não nos vai retirar o tapete. E mais, disse que a maioria dos riscos prendem-se com o crescimento económico ser mais fraco que o esperado, pelo que uma descida no crescimento económico seria motivo suficiente para de novo aumentar o programa.
As previsões para o crescimento económico da zona-euro continuam fracas: 1,7% este ano e no próximo, caindo depois para 1,6% em 2018 e 2019. Más notícias para o crescimento português. Quanto à inflação, irá gradualmente aumentando: 0,2% este ano, 1,3% no próximo, 1,5% em 2018 e 1,7% em 2019. De notar que, respondendo a uma pergunta de um jornalista, Draghi recusou-se a admitir que os 1,7% de 2019 sejam atingir o objetivo do BCE, que é de manter a inflação “perto mas abaixo” de 2%. Assim, é de esperar que o BCE continue a ter uma política monetária muito expansionista, dando tempo aos governos para fazerem o trabalho de casa: implementar reformas estruturais, reduzir as despesas, aumentar o investimento reprodutivo, isto sempre nas palavras de Draghi.
Em conclusão: até finais de 2017 e talvez mesmo depois as nossas taxas de juro vão continuar baixas, dando-nos mais tempo para “meter a casa em ordem”.