Passos agarrou Costa pela jugular

Desde que perdeu o Governo ganhando eleições, Passos Coelho não acertava o rumo da oposição a fazer. Cometeu no último ano quatro erros políticos que lhe custaram caro e fizeram o PSD descer nas sondagens. O seu primeiro erro político foi desvalorizar a ‘geringonça’. Achou que ia durar pouco e nunca cumpriria a legislatura, por…

Desde que perdeu o Governo ganhando eleições, Passos Coelho não acertava o rumo da oposição a fazer. Cometeu no último ano quatro erros políticos que lhe custaram caro e fizeram o PSD descer nas sondagens.

O seu primeiro erro político foi desvalorizar a ‘geringonça’. Achou que ia durar pouco e nunca cumpriria a legislatura, por causa da pressão interna das contradições entre PS, PCP, BE e PEV, mas também pela pressão externa das instâncias europeias. Foi um erro de análise, porque António Costa já tinha experimentado solução idêntica com sucesso no município de Lisboa. 

O segundo erro de Passos Coelho foi não apoiar Marcelo Rebelo de Sousa como candidato à Presidência da República. A nossa história das presidenciais está cheia de líderes políticos a engolirem sapos do tamanho de elefantes – como Álvaro Cunhal a mandar votar em Mário Soares.

O terceiro erro foi a escolha da direção no congresso do PSD. Passos Coelho é teimoso, e – em coerência com a ideia de que a ‘geringonça’ não duraria – escolheu uma equipa low profile. Tem uma direção pálida para fazer oposição e eleições autárquicas, quando precisava de uma direção de gente politicamente influente e combativa.

O quarto erro de Passos Coelho foi o anúncio da vinda do Diabo. Acreditou que o Governo cairia por alturas do Orçamento. Este foi talvez o pior momento, o mais infeliz e aquele que foi mais aproveitado pelo Governo, pelos partidos que o apoiam e pelos media. Como a profecia não se concretizou, com o Orçamento aprovado o custo político foi grande.

Passos Coelho errou nas análises mas acertou na espera. A espera compensou-o finalmente esta semana e chegou sob a forma da TSU. 

António Costa fez o número circense habitual, à espera de um desfecho com palmas generalizadas. Pôs-se a caminhar em cima do arame sem rede de segurança por baixo e é bem provável que se estatele no chão. 

O PCP e o BE sentiram-se tentados a tirar a rede a António Costa porque estão obrigados a fazer prova de vida em ano eleitoral. Mas não é de excluir que ainda corram a amparar o primeiro-ministro. Depende do que este tenha para dar em troca. 

Já Passos Coelho, quase chantageado pelo Governo, pelo Presidente da República, por patrões, sindicatos, media e ‘le tout Lisbonne’, mostrou que ainda tem o instinto político que o levou a liderar a ‘Jota’, afrontando o líder Cavaco Silva; e que o conduziu a conquistar o partido a Manuela Ferreira Leite e a ganhar as legislativas em 2011 e em 2015. E que o leva a ser o segundo líder mais longevo do PSD: faz 7 anos de liderança partidária em abril.

Passos Coelho agarrou António Costa pela jugular e não largou. Mostrou instinto, audácia e coragem. Quanto mais o primeiro-ministro espernear, mais o PSD aprecia. Já em entrevista ao SOL, a 30 de abril de 2016, olhando para a sua governação, tinha admitido: «A TSU foi o maior erro político que cometi».

Finalmente acertou.