BPI: de veto em veto até um acordo final

Isabel dos Santos usou o poder de veto que tem no BPI e chumbou uma alteração estatutária que permitia reeleger Fernando Ulrich como presidente, mas este terá sido o último cartão vermelho da empresária angolana. A administração do banco vai pedir a desblindagem de estatutos a partir de 1 de julho e, eliminado a minoria…

BPI: de veto em veto até um acordo final

«Estamos confiantes de que desta vez o resultado será positivo. O decreto-lei [de desblindagem de estatutos] entra em vigor a 1 de julho, portanto estamos a falar de um processo que vai levar o seu tempo. O nosso objetivo é que a operação se possa concluir no terceiro trimestre, mas estas operações dependem de muitos fatores pelo que não se pode ser taxativo», afirmou esta semana o administrador delegado do Caixabank, Gonzalo Gortázar. Depois do chumbo estatutário na AG, os espanhóis fizeram questão de emitir um comunicado que «avalia muito positivamente» a gestão de Fernando Ulrich à frente do banco.

Os estatutos do BPI impedem que os gestores na administração tenham mais de 62 anos. Ulrich cumpria este requisito quando assumiu o último mandato como presidente do banco, há dois anos, mas acaba de fazer 64. Para ser reconduzido em 2017 precisaria que esta regra fosse alterada em assembleia geral.

A administração fez essa proposta, com o apoio dos acionistas espanhóis do CaixaBank, mas a votação foi insuficiente. Segundo um comunicado enviado à Comissão do Mercado dos Valores Mobiliários (CMVM), a eliminação desse ponto dos estatutos foi votada favoravelmente por 63,68% dos votos da AG, quando eram necessária uma maioria qualificada de 66,67%.

Acordo é possível

O chumbo da recondução de Ulrich foi o último episódio da ‘guerra’ entre Isabel dos Santos e o CaixaBank, que se arrasta há mais de um ano e está relacionado com a redução da exposição excessiva a Angola.

Ontem, Fernando Ulrich acabou por desdramatizar o diferendo, prevendo uma solução para o problema. «Isto só pode acabar bem, como e quando não sei», afirmou Ulrich na conferência de imprensa de apresentação dos resultados do BPI no primeiro trimestre. Além da OPA em curso pelo CaixaBank, um dos caminhos possíveis é retomar um projecto de cisão dos ativos fricanos, que os espanhóis também já propuseram e foi rejeitada por Isabel dos Santos.E um «terceiro caminho», disse Ulrich, seria o BPI comprar a posição de 18,6% Isabel dos Santos no seu capital, oferendo em troca parte da participação de 50,1% do banco português no angolano BFA.

Quanto à sua continuidade no banco, o gestor mostrou-se tranquilo. «O cenário central é que os estatutos do banco vão ser desblindados, o CaixaBank vai passar a ter a maioria e, mesmo com a oposição do accionista que ontem votou contra, a regra da idade dos administradores executivos será alterada. E a julgar pelas declarações de altos responsáveis do CaixaBank, tenho boas hipóteses de ser reeleito para mais um mandato no BPI».

Ulrich brincou até com a situação que viveu, depois de a assembleia geral de quinta-feira ter chumbado a sua recondução: «As minhas filhas começaram logo a mandar mensagens a dizer que, finalmente, ia poder buscar os netos à escola e que íamos poder ir ouvir fados à noite. Mas tive de lhes responder ‘só daqui a muitos anos’. Nos próximos anos isso não vai ser possível, porque ainda estarei no BPI», disse ontem aos jornalistas.