Nuno Rangel: “Desejo um aumento forte das exportações”

Nuno Rangel, CEO da Rangel Logistics, revela a sua visão para o país nos próximos 20 anos.

Que ideia tem para o país, como cidadão, nos próximos 20 anos?
Nós somos uma pequeníssima parte da influência da equação para poder tornar o nosso país melhor. Eu queria estar num país mais moderno e com muito mais desenvolvimento económico e social. Temos de desenvolver mais as nossas empresas e as nossas empresas têm de apostar muito mais nas exportações, têm de se tornar empresas maiores e, se possível, empresas globais.

O caminho que temos feito no turismo tem dado efeitos e espero que continue a dar para Portugal continuar a ter um peso importante na área do turismo. Mas também gostaria muito que tivéssemos um aumento forte das exportações. Temos vindo a dar passos interessantes, mas as exportações representam cerca de 50% do PIB e, comparando isso com alguns outros países, ainda não estamos lá. Se daqui a 20 anos, no mínimo, tivéssemos 75% das exportações com peso no PIB, seria já um caminho interessante.

Há temas essenciais que vamos ter de resolver nos próximos 20 anos como a questão do envelhecimento da nossa população. Temos de ser capazes de reter os jovens que cá temos dentro, ser capazes de tentar que os portugueses que saíram possam um dia voltar e, ao mesmo tempo, temos de gerir muito bem a imigração porque vamos precisar dessas pessoas mais jovens, caso contrário vamos ter muita dificuldade com as pensões, com a saúde. Precisamos de mais gente ativa a trabalhar para sustentar toda a população portuguesa que está a envelhecer.

Por último, tocar na parte da educação. Temos capacidade de ter boas escolas, boas universidades, pois formamos muito boas pessoas, em todas as áreas, como engenheiros, arquitetos, as nossas universidades formam bem as pessoas. Vemos isso porque muitas dessas pessoas estão a emigrar para outros países, essencialmente na Europa, e também muitas multinacionais vêm para aqui criar centros de serviços e usar recursos humanos portugueses porque veem neles qualidade. Mas, para isso, é preciso continuar a investir na educação e nos professores. A educação é chave em qualquer país. Se nós tivermos muito melhor educação, teremos certamente um país muito melhor.

Dentro de 20 anos, como gostaria que estivesse o seu setor?
O nosso setor está num momento de viragem e vai ter mudanças muito fortes, perante tendências que não há forma de parar. Uma delas é a sustentabilidade, a energia mais verde. O transporte, nomeadamente o rodoviário, tem hoje um impacto enorme no efeito-estufa e isso vai ter de ser resolvido. Vamos ter de recorrer a fontes de energia mais sustentáveis para podermos gerir os transportes nacionais e internacionais rodoviários. Vai haver muito mais automação e robotização e com mais tecnologias. A logística vai ser muito mais digital, com introdução da inteligência artificial e machine learning. Vamos ter muitos processos que vão estar completamente diferentes, mas isso vai obrigar-nos a mudanças em termos de recursos humanos. Teremos de requalificar e de qualificar os nossos recursos humanos porque, para alguns deles, as tarefas que fazem hoje não vão ser necessárias. Acredito que há aqui um processo grande de mudança no nosso setor.

E qual o maior desafio para a sua empresa?
Nós, hoje, competimos em Portugal (muitas vezes, chamam-nos local hero) com as maiores multinacionais do mundo, empresas gigantes que estão em muitos países, a maior parte delas de origem americana, alemã e agora asiática. A nossa missão é competir com essas empresas, não só em Portugal como noutros países, como é o nosso caso. Isso claramente é um desafio: adaptarmo-nos a todas estas realidades de mudanças no setor e podermos crescer, quem sabe podermos tornar-nos uma empresa internacional e mais global do que somos hoje.