Por uma Educação com futuro

Temos uma educação baseada em modelos do século XVIII, com professores do século XX e alunos do século XXI.

A Educação em Portugal está numa encruzilhada e são muitos os perigos que espreitam e ameaçam as gerações atuais e sobretudo as novas gerações.
O desfasamento do sistema de educação em Portugal face à velocidade a que o mundo evolui é de tal forma que pode ser descrito da seguinte forma: temos hoje uma educação baseada em modelos do século XVIII, com professores do século XX e alunos do século XXI.

Um primeiro conjunto de preocupações que merece profunda reflexão e ação é o desajustamento dos modelos de ensino e os curricula atuais face às necessidades de um mundo em transformação permanente e que exige novas competências técnicas e socioemocionais.

Uma segunda situação crítica é a escassez de professores, que vai muito além dos problemas crónicos entre a classe e os Governos e que carecem de uma resolução. Portugal não se preparou para o envelhecimento de um elevado e preocupante número de professores muito experientes e qualificados que se está a reformar.

Em terceiro, os alunos, que deveriam ser o centro e foco da Educação em Portugal, mas que continuam a ser tratados em grandes grupos homogéneos. Somos todos diferentes e o futuro passa seguramente por uma educação mais individualizada e adaptada ao perfil de cada aluno como forma de potenciar os seus “superpoderes”, a aprendizagem, o desenvolvimento de competências, nomeadamente as socioemocionais, que têm cada vez mais uma importância fundamental.

São muitos os desafios, e diversos mesmo estruturais. É urgente apostar no reforço da educação e da qualificação dos portugueses jovens e adultos para as competências e para os empregos do futuro, para que tenhamos portugueses mais felizes, a viver num país melhor. A Educação tem que ser o elevador social que realmente funciona. E há muito a fazer para que tal continue a ser verdade.

A mudança na Educação passa por um Ministério da Educação focado nos resultados da educação (output), isto é, em portugueses com competências adequadas para o futuro. Os recursos (escolas, professores e conteúdos) são o motor para que tal aconteça. É ainda fundamental olhar para a educação de uma forma concertada, como um processo contínuo ao longo da vida, que inclui a educação obrigatória, a educação e formação profissional, a educação superior e a educação dos adultos ao longo da vida.

Para que esta equação resulte em pleno é inevitável apostar nos professores e na atratividade desta profissão, nomeadamente ao nível salarial e de carreira, que volte a despertar a paixão dos portugueses. É necessário que o ensino superior acelere a sua transformação para se adaptar com mais agilidade às necessidades do futuro. E que seja também promotor de nova formação de curta duração orientada para as necessidades do país.

É ainda fulcral desmistificar o ensino profissional e o ensino superior politécnico, dando-lhes a real importância que merecem e reconhecendo o enorme contributo para as qualificações de todas as gerações.

Não menos importante é a aprendizagem ao longo da vida, onde Portugal tem ainda um longo caminho a percorrer. Esta tem de ser uma aposta nacional, um compromisso entre os principais decisores (políticos, instituições de ensino, entidades formadoras) e cada um de nós.

E numa altura em que a tecnologia e a Inteligência Artificial (IA) em particular começa a ganhar terreno nas nossas vidas, não pode ser desprezado o potencial da tecnologia para gizar as transformações na Educação, em diversos planos, e que que garantam maior eficácia, vontade de aprender e interação colaborativa.

Esta inovação na educação já é visível na oferta formativa de projetos como a 42, a Brave Generation Academy ou o TUMO, que oferecem uma experiência de ensino completamente nova, longe do modelo professor à frente dos alunos a transmitir matéria no contexto sala de aula.

O país não pode recear experimentar e inovar na educação. É dessa experiência, realizada em ambientes controlados, que podem sair ensinamentos a aplicar a todo o sistema de ensino.

O país está estagnado, há pouco pensamento crítico e pouca vontade de mudança e inovação na educação. É urgente criar e implementar uma Agenda da Educação em Portugal para a próxima década.

O futuro está já aí à espreita e o país não pode ficar para trás.