Rui Miguel Nabeiro: “Fazer de Portugal um país com mais marca”

CEO do Grupo Delta revela a sua visão para o país e para a sua empresa nos próximos 20 anos.

Qual a tua visão para o país para os próximos 20 anos? Como CEO do Grupo Delta, mas também como presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa (antiga Associação Comercial de Lisboa), como gostarias que o país estivesse, quando Portugal celebrar 900 anos do Tratado de Zamora?
Gostava que nos sentíssemos mais felizes e mais satisfeitos com o país. Hoje, não estamos muito felizes e queixamo-nos bastante. Ainda somos um país em que há muita gente que atravessa grandes dificuldades, o que em 2023 faz-me pouco sentido. Não vejo outro caminho que não seja termos empresas com maior dimensão, mais sólidas e que consigam pagar melhores salários. A grande questão é que, em Portugal, as empresas de média-grande dimensão são poucas. E quando olhamos para empresas que construíram marcas ainda são menos. E isso é uma preocupação.

Quando me candidatei para a Câmara de Comércio, uma das minhas bandeiras de campanha era “Fazer de Portugal um país com mais marca”, que aposta em marca. É uma convicção pessoal que tenho: as marcas acrescentam valor e é isso que faço no meu negócio. Quando olhamos para os casos de sucesso de grandes empresas, sobretudo do grande consumo, aquilo que acrescenta valor são as marcas e não ter uma fábrica que produz marcas para outros. Não estou a dizer que não posso ganhar dinheiro com isso, mas é mais sustentável e é um caminho de maior criação de valor, com empregos mais qualificados, que pagam melhor, do que sermos apenas industriais. Isto para mim é extremamente importante, sem desvalorizar o que fazemos hoje.

Temos de ter empresas de maior dimensão, com mais marcas, que depois permitam criar melhores empregos para as pessoas. Não basta dizer que temos de pagar mais; temos é de criar valor e condições para que haja empregos atrativos, para que os mais novos não queiram ir lá para fora para a Google ou para a Apple ou onde quer que seja nas tecnológicas. E não é só uma questão de pagamento. Em Portugal, não há empresas muito atrativas para se fazer uma carreira e é aí que temos de apostar: em empresas que sejam capazes e ganhem dimensão. Temos projetos de PME e start-ups muito interessantes; temos é de as segurar cá, fazer com que cresçam e tenham um negócio cá, mesmo que seja virado lá para fora, para podermos ter aqui as pessoas a ganharem bem – e o resultado é estarmos todos mais felizes.

Pela tua experiência em construção de marca, que aconselharias aos governantes nos próximos anos para (re)construção da marca Portugal?
A marca Portugal não tem hoje qualquer problema. Quando olhamos para o turismo, Portugal é um destino muito interessante ou quando olhamos para imigrantes que têm dinheiro e querem fazer vida cá. Aquilo que está a faltar é das outras pessoas, operários, trabalhadores e até os de colarinho branco têm poucas oportunidades no nosso país. Aquilo que temos é de conseguir captar empresas interessantes para cá, manter as que cá temos e criarmos mais. Temos potencial, temos um mercado interessantíssimo para poder criar aqui empresas que depois cá se fixem e que possam criar empregos com valor acrescentado.

E o grupo Nabeiro, como gostarias que estivesse dentro de 20 anos?
Daqui a 20 anos, quero estar no top 10 mundial. Essa é a ambição. É uma aposta continuada que a marca Delta tenha mais notoriedade lá fora (e assim possa crescer mais rápido), continuar a inovar e trazer inovações que acrescentem valor para a empresa.