Turismo sustentável é o futuro. Portugal está no caminho certo?

Procura por ‘destinos de turismo sustentável’ vai disparar no futuro. Bernardo Trindade, presidente da AHP, defende que Portugal deve afirmar-se como destino sustentável , mas que isso não passa por limitar o excesso de turismo.

Ecoturismo, turismo rural, turismo comunitário ou turismo suave. São tudo termos que fazem parte de uma prática cada vez mais comum: o turismo sustentável. De acordo com um relatório do Nova SBE Westmond Institut, “espera-se que o mercado global de turismo sustentável cresça de 158 mil milhões de dólares (cerca de 149 mil milhões de euros) em 2021 para 299 mil milhões de dólares (cerca de 281 mil milhões de euros) em 2026, com uma taxa média de crescimento anual de 12,7%”. Prevendo-se um aumento da procura neste mercado, estará Portugal preparado para responder? Bernardo Trindade, presidente da Associação de Hotelaria de Portugal (AHP), administrador do Porto Bay Hotels & Resorts e antigo secretário de Estado do Turismo, afirma que ainda há um caminho longo a percorrer.

Atualmente, Portugal pode ser efetivamente considerado um destino de turismo sustentável?
Esse é um caminho natural até de afirmação da atividade turística. Temos de procurar satisfazer o interesse de um turista, que, hoje mais informado, procura destinos sustentáveis. Para afirmar-se e para consolidar esta trajetória positiva, Portugal tem de olhar para a sustentabilidade como um motivo de afirmação futura.

O turismo sustentável é um dos “referenciais estratégicos” da Estratégia Turismo 2027. É este o futuro?
Indiscutivelmente. Para termos uma relação adulta, verdadeira e transparente com o nosso turista, com quem nos visita, nós temos de, não só adotar práticas sustentáveis, como comunicá-las adequadamente e construir uma relação de confiança para o futuro.


“O turismo tem externalidades negativas. Agora, é inexorável o efeito positivo que esta atividade económica tem na riqueza nacional”

BERNARDO TRINDADE

Presidente da Associação de Hotelaria de Portugal (AHP)

Um relatório recente da Relatório do Nova SBE Westmont concluiu que “há desconhecimento generalizado em Portugal sobre práticas de sustentabilidade corporativa”. O que é que deveria ser feito neste sentido?
Há uma consciência coletiva que todos nós estamos a assumir. Hoje, um pouco por todo o país, os nossos empresários, as equipas que lideram a indústria hoteleira e os hotéis em particular, têm, de facto, mais ou menos presente, a questão da sustentabilidade. Este caminho está longe de ter sido percorrido, mas muita coisa já foi feita e isso não deixa de ser positivo.

Para continuar a trilhar o caminho da sustentabilidade, que medidas concretas podem ser tomadas?
Hoje, a questão do consumo de água está a ser olhada pelas unidades hoteleiras de uma forma diferente. Estamos a falar de um bem escasso e, muitas vezes, nós convidamos os nossos clientes a fazerem esta gestão, a serem corresponsáveis por estas práticas, nomeadamente nas lavagens das toalhas, na mudança dos próprios lençóis e cobertores, no fundo, numa gestão racional da água que compreende uma prática não só dos hoteleiros, mas dos seus clientes.
Depois no quadro das energias, hoje, em resultado do processo crescente de descarbonização e através dos próprios incentivos do Plano de Recuperação e Resiliência, nós podemos integrar um conjunto vastíssimo de projetos que visam sobretudo ir substituindo a energia suja pela energia limpa, com a instalação de painéis fotovoltaicos.

Há quem defenda a reformulação do sistema de classificação dos hotéis por estrelas, de forma a integrar “critérios de sustentabilidade como requisitos obrigatórios”. O que acha?
Entendo que os facultativos podem passar a obrigatórios e podem inclusive ser objeto de prémio para que, de alguma maneira, as unidades hoteleiras que estão na frente desse diálogo com a sustentabilidade, possam ser valorizadas e premiadas.

Sobre o excesso de turistas… poderá existir um limite para o peso que o turismo deve ter na economia portuguesa?
Sim, é verdade que os turistas respiram o nosso oxigénio e que o turismo tem externalidades negativas. Nunca nenhum de nós o negou. Agora, é inexorável o efeito positivo que esta atividade económica tem no cumprimento de metas, não só no setor, mas na riqueza nacional, no emprego, na coleta fiscal. São tudo matérias que são resultado do bom comportamento económico que Portugal vem apresentando e que tem o turismo a liderar essa recuperação. Como é evidente, tudo isto é um trade off, que não tem só efeitos positivos.

Então não considera a opção de se colocarem limitações.
Ninguém o faz. Aquilo que nós estamos a ter, nomeadamente nas grandes urbes, são sistemas de regulação. Em zonas de património, zonas que estão fortemente densificadas, poderão haver aqui algumas limitações no sentido de se licenciar mais. Mas, por principio, estar a definir restrições não me parece correto.