António Portela: “Temos de fazer um esforço e dar o salto”

CEO da Bial revela a sua visão para o país dentro de 20 anos.

Enquanto cidadão, como gostaria de ver o país dentro de 20 anos, sendo o Estado-nação mais antigo da Europa com fronteiras definidas?
AP
 – É uma pergunta difícil de responder. O nosso chairman António Horta Osório disse que Portugal é um país que não tem ambição suficiente. Eu olho para Portugal e temos um país absolutamente fantástico, um povo fantástico na sua forma de ser, acolhedora, tranquila, que não se mete em conflitos, com uma postura muitíssimo equilibrada face a outros povos, mas acho que nos falta um nível de ambição bastante maior.

Se não formos capazes de pormos mais ambição naquilo que fazemos, de querermos que as nossas empresas sejam maiores – ou, como já ouvi o António Rios de Amorim dizer, que as nossas pequenas empresas queiram ser médias, que as médias queiram ser grandes e as grandes queiram ser muito grandes, multinacionais; se não tivermos este nível de ambição, vamos estar mais ou menos na mesma, neste rame-rame, meio pobrezitos. Agora, se realmente pusermos ambição, com a qualidade que temos, diferente do que tínhamos há 20 anos, em que tínhamos um nível de educação muito baixo no país… Hoje estamos a formar uma geração absolutamente extraordinária. Às vezes, critica-se o facto de quererem ir lá para fora, mas isso não me faz tanta confusão. Se formos capazes de ter projetos e empresas capazes de atrair as pessoas a voltarem para cá, até é bom que vão, ganhem mundo e cresçam e depois possam voltar.
Para dar um exemplo, nos últimos três ou quatro anos, fomos buscar 15 portugueses lá fora, ou seja, portugueses que fizeram a sua formação aqui, saíram para fazer carreira, mas estavam disponíveis para voltar para cá. E voltam, se houver projeto e uma base salarial importante. Se formos capazes de ter esse nível de ambição coletiva, aproveitar algumas das características que temos, mas também construir, trabalhar e não estar sempre demasiado dependentes de fundos… temos de explorar, ir lá fora, construir o nosso caminho nos outros países (e temos hoje mais gente preparada para fazer isso), só depende de ter essa ambição.

As competências já as temos vindo a adquirir; está muito mais no nosso sentimento coletivo aquilo que queremos ser ou não. Se queremos continuar a ser um povo simpático, acolhedor, mas que vive de baixos salários porque também não trabalha muito para ter mais do que isso; ou se estamos dispostos a fazer um esforço e a dar o salto. Olhamos para outros países e vemos que deram esses saltos qualitativos porque se aplicaram e porque aplicaram o seu esforço em novas tecnologias, novos produtos, novos serviços que sejam vendáveis à escala global.

E como vê a empresa dentro de 20 anos?
AP
 – Gostava muito que continuássemos a ser capazes de investir em investigação e desenvolvimento, a trazer medicamentos ainda mais inovadores. O que custou muito foi criar a nossa equipa de investigação e desenvolvimento. Hoje, temos uma equipa com muita competência. Temos 25 nacionalidades, gente que veio de muitos sítios e que está disposta a juntar-se a este grupo para continuar. Temos de ter alguma sorte pelo caminho, mas, se fizermos as coisas com empenho, paixão, dedicação, competência (como temos feito até hoje), vamos continuar a inovar, trazer medicamentos que façam a diferença na vida das pessoas. Talvez façam ainda mais diferença do que aqueles que fazem hoje.

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