“Portugal está entre os melhores destinos mundiais para estudar”, afirma diretor da Nova SBE

Nova SBE tem o 11.º mestrado de Finanças e o 15.º de Gestão do mundo, de acordo com o Financial Times. O diretor, Pedro Oliveira, revela o segredo desde caso de excelência entre as universidades portuguesas.

Veja o vídeo completo no Youtube da Euronews:

A Nova SBE é um caso de excelência entre as universidades portuguesas e europeias. Após cinco anos e subidas contínuas nos rankings internacionais, o que é, no final de 2023, antiga Faculdade de Economia da UNL ou Nova SBE?
PO — A Nova tem feito uma trajetória bastante incrível, não apenas nos cinco anos que passaram desde a inauguração do campus. Essa é bastante visível e é mais notória, mas o próprio campus só é possível graças aos últimos 46 anos de história que permitiram que estivéssemos hoje aqui, em Carcavelos.
A Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, de facto, tomou muito cedo algumas decisões, por exemplo, no que respeita à internacionalização, aos cursos serem em inglês, ao recrutamento de professores no mercado internacional, à endogamia académica; ou seja, não recrutamos os nossos próprios doutorados, o que na realidade abriu muito a escola para o mundo, ideias diferentes, professores com outras culturas e outras religiões, e isso foi muito importante para a Nova.
Nos últimos cinco anos, obviamente com este espetacular campus, a trajetória acelerou. A escola mudou muito, cresceu muito em número de alunos e somos hoje bastante mais do que éramos. Eu não estava cá, mas falando como escola, certamente quando estávamos em Campolide (e é uma trajetória impressionante desde o Campo Grande, onde tudo começou, depois Campolide), agora Carcavelos e agora também no Cairo (temos um novo campus no Egito), de facto, é uma escola bastante diferente e hoje reconhecida mundialmente. Sem dúvida, uma escola muito reconhecida no contexto europeu.
A escola tem hoje o décimo primeiro mestrado de Finanças do mundo, de acordo com o Financial Times; o décimo quinto mestrado de Gestão do mundo, outra vez de acordo com o Financial Times; a nossa formação de executivos é a décima oitava também no mundo e o nosso MBA acabou de subir 21 posições e está agora em trigésimo quarto na Europa.
É, de facto, uma escola que se afirmou internacionalmente, mais na Europa do que no mundo. É uma escola muito internacional. No nosso mestrado, por exemplo, 72% dos nossos alunos são internacionais, são de todo mundo, havendo uma predominância de alunos europeus (alemães,italianos, franceses, belgas e um pouco depois de tudo), porque na realidade são 93 nacionalidades que temos no campus. A nossa licenciatura é menos internacional, é mais nacional. Aí temos mais portugueses, mas, quando observamos o que se passa no campus, são cerca de 55% de alunos internacionais que temos aqui.

— Ao todo, estamos a falar de quantos alunos e professores?
PO — Estamos a falar de cerca de 6000 alunos de grau, depois mais cerca de 9000 participantes na formação de executivos. É um campus muito maior do que era quando estava em Campolide. Quando pensamos nos professores, temos estado a crescer muito. Acabámos de recrutar 22 novos professores de carreira. O número agora é de 104 professores; aumentamos de 82 para 104. Por exemplo, pensando nestes 22 que acabaram de chegar, 19 são estrangeiros ou internacionais.
Temos um grupo de quase 200 outros professores que são profissionais ou que são professores adjuntos que participam connosco nas nossas atividades a tempo parcial. De facto, no universo total, somos cerca de 700, entre staff e docentes.

— Entre vários fatores críticos de sucesso, temos professores altamente qualificados, ensino ministrado em inglês, mas, no tema da endogamia, em que é que a NOVA SBE se diferencia em relação às universidades portuguesas?
PO — É muito diferente. Uma decisão muito importante (tomada na Nova muito antes de eu chegar, tenho muito pouco ou nenhum mérito nela) foi não haver endogamia académica. O que é que isso significa? Significa que a Nova não recruta os seus próprios doutorados. Temos um programa de doutoramento e é quase cruel dizer que não vamos suportar os nossos próprios doutorados, mas nós sabemos que as melhores universidades do mundo, as melhores escolas do mundo, seguem esta prática.
Há uma boa razão para isso. Quando não nos fechamos sobre nós próprios, que é o que acontece quando algumas escolas recrutam os seus próprios doutorados, abrimo-nos ao mundo e trazemos sangue novo, perspetivas diferentes e pensamento diferente. A Nova tomou esta decisão muito cedo. Na realidade, é, em Portugal, a escola com apenas 4% de doutorados no seu quadro de docentes que fizeram o doutoramento na casa. A generalidade das escolas tem dois dígitos. Há muitas escolas 60-80%, algumas escolas com 100%. Esta é uma decisão muito importante que permitiu toda esta renovação académica que nós hoje vemos no nosso corpo docente. É um corpo docente muito internacional, literalmente de todos os cantos do mundo, não apenas geograficamente, mas também de escolas de pensamento diferente. Isso foi muito importante para todo o desenvolvimento da escola até hoje.

— Outra variável, e um fator distintivo da Nova SBE, é o financiamento. Sendo uma universidade pública, o campus da NOVA SBE tem um forte financiamento de investidores privados, desde o início. De que forma é que isso tem pesado na excelência internacional?
PO — Isso é muito importante. Todo este projeto é colaborativo. Nós concebemos a Nova como uma plataforma aberta, mesmo fisicamente, o campus é completamente aberto, mas é uma plataforma que permite a colaboração com empresas. Este campus só foi possível graças à generosidade de muitas empresas nacionais, começando pelos principais financiadores e fundadores originais da chamada Fundação Alfredo de Sousa, que incluem a Câmara Municipal de Cascais, mas também o Banco Santander Totta, a família Soares dos Santos e a Jerónimo Martins. Foram estes quatro, juntamente depois com 1600 outras empresas e doadores individuais, que permitiram que tivéssemos este campus.
Somos uma escola pública e, de facto, temos muito financiamento que vem, desde logo, das propinas, mas também de empresas e de muitas atividades que fazemos com parceiros empresariais. Hoje, na realidade, a nossa dependência de financiamento público é muito baixa. Dependemos cerca de 12% de financiamento público.
Na realidade, o nosso financiamento hoje vem das propinas que cobramos aos nossos alunos, principalmente nos programas de mestrado. Continuamos a trabalhar muito, seja na nossa investigação, seja na formação de executivos que fazemos, com empresas, não apenas em Portugal, mas um pouco por todo o mundo. Hoje temos colaborações com empresas do Brasil ao norte da Europa e dos Estados Unidos à Ásia.

— A Nova SBE está a fazer um esforço para trazer ou fazer várias parcerias internacionais para estimular precisamente essa produção e reconhecimento internacional.
PO — Exato. Achamos que ainda há espaço para melhorar a nossa investigação e a nossa capacidade de ter impacto no mundo.
O que nós queremos é afirmar a escola como líder intelectual em algumas áreas. O que estou a fazer no meu novo mandato, é tentar lançar novos institutos. A escola tem aquilo a que nós chamamos centros de investigação ( Knowledge Centers).
Temos nove em diversas áreas do conhecimento, que é precisamente o que acontece quando um professor decide lançar um centro de investigação numa qualquer área em que é especialista: economia da saúde, economia da educação ou inovação aberta e do utilizador, para dar alguns exemplos.
Por outro lado, existem os chamados institutos. Temos neste momento dois: o Westmont Institute of Tourism & Hospitality e o Haddad Entrepreneurship Institute. São, como o nome sugere, parcerias com organizações externas que nos permitiram desenvolver novas áreas de conhecimento. Estamos não apenas a tentar desenvolver mais estes dois institutos, como estamos a lançar novos institutos com parcerias internacionais.
Neste momento, estamos a fazer um esforço grande para lançar institutos em políticas públicas e governo (Public Policy and Government). Isto contará com participações ativas de professores da Kennedy School da Harvard University, mas também com parcerias, como por exemplo com o Club de Madrid, que é um clube de ex-líderes. Queremos estabelecer uma parceria para garantir que temos acesso a esta experiência, desde logo de governo , que será sem dúvida uma mais-valia para os nossos alunos epara os nossos investigadores.
Queremos lançar um segundo instituto chamado D^3 Digital Data and Design. Existe um instituto precisamente com o mesmo nome na universidade de Harvard. O que nós estamos a fazer é, em colaboração com a universidade Harvard, trazer esse Instituto para cá e ter aqui um instituto-irmão daquele que já existe em Boston.
Depois, um instituto em sustentabilidade ou desenvolvimento sustentável, e, finalmente, um instituto em aging ou envelhecimento. Este vai ser um instituto em parceria com a nossa escola de Medicina, a Nova Medical School, que, neste momento, está precisamente a construir o seu campus do outro lado da praia. Portanto, vamos ter vizinhos e faz todo o sentido colaborarmos com outras escolas da Nova, mas também com outras escolas em geral,seja em Portugal, seja pelo mundo fora.
Estou a tentar alavancar parcerias internacionais para desenvolver muitas das nossas atividades, não apenas ao nível da investigação, mas também, por exemplo, ao nível do ensino.
Um dos primeiros programas que vamos lançar (e já não faltará muito) é um novo mestrado em Gestão de Tecnologia (Management of Technology) com a NYU, a universidade de Nova Iorque. Os alunos começarão o seu programa aqui na Nova, em Carcavelos, e depois continuarão os seus estudos em Nova Iorque, onde terminam o mestrado.
E, como terminam nos Estados Unidos, têm logo acesso ao mercado americano. É um programa muito interessante, por exemplo, para quem queira fazer uma carreira nos Estados Unidos, porque nos permitirá colocar os nossos graduados imediatamente no mercado americano.

— Esta universidade tem formado alguns dos nossos melhores quadros em diversas matérias, desde Gestão à Economia. Como vês a questão da saída e da fuga de talentos? Também é verdade que estamos a formar as pessoas para trabalharem na economia global, mas saem…
PO — A minha preocupação não é que os nossos alunos saiam. Acho bem que eles saiam e que vão ganhar o mundo. O problema é se Portugal é suficientemente atraente para que eles voltem. Nesse contexto, há muito a fazer para tornar Portugal um bocadinho mais interessante.
Neste momento, estamos exatamente a sentir essa saída de cérebros, como se costuma dizer. Muitos dos nossos alunos, nomeadamente os portugueses, tentam logo encontrar o seu primeiro emprego em Londres, em Frankfurt, um pouco por todo lado. Não vejo mal nenhum nisso; gostaria era que mais tarde ou mais cedo eles voltassem.
Gostaria também que muitos dos nossos alunos internacionais ficassem porque esses vai ser mais difícil trazer mais tarde. Eles agora estão cá, teriam muito interesse em trabalhar cá como primeiro emprego e alguns vão ficar…
Na realidade, a larguíssima maioria dos nossos alunos, sejam nacionais, sejam estrangeiros, vai procurar o seu primeiro emprego fora.

À minha maneira

Qual é o teu estilo de gestão e de liderança? Quem é o Pedro?
PO — Quem é o Pedro? O Pedro é um pouco exótico, nasceu na República Centro-Africana e depois cresceu e estudou em Portugal. Não sou economista, nem gestor. Licenciei-me no Técnico em Engenharia, onde fiz também o mestrado e, a seguir, fui para os Estados Unidos fazer o doutoramento.
Depois do doutoramento estive muitos anos como professor na Católica Lisbon School of Business & Economics. A seguir, tive várias colaborações mais curtas, como escolas nos Estados Unidos. Na realidade, estive três anos no MIT e estive também na Universidade do Texas, em Austin.
Sob o ponto de vista pessoal, sempre tive um fraquinho e sou um grande fã do norte da Europa, a Escandinávia. Já tinha vivido, como estudante, na Suécia e na Finlândia, durante um curto espaço de tempo, e na Noruega.
Passei os últimos cinco anos em Copenhaga, na Dinamarca, antes de vir para a Nova. Foi uma experiência muito marcante. Quer dizer, todas as outras o foram, obviamente. Além da Escandinávia, passei muito tempo também nos Estados Unidos, mas aprendi muitas coisas na Escandinávia que me marcaram também como líder.
Ali, as hierarquias não se sentem como em Portugal ou como se sentem nos Estados Unidos.
Na Escandinávia, qualquer pessoa sente que tem um papel importante na sociedade, independentemente do seu nível hierárquico, o que é bastante inspirador.
Ajudou-me e está a ajudar-me como líder aqui na Nova. Isso marcou-me.

Sim, conseguimos

Qual terá sido a maior adversidade na liderança da Nova SBE e como é que a enfrentaste ou resolveste?
PO — Acabei de chegar, estou aqui há 8 meses e temos certamente alguns desafios.
Felizmente, ainda não temos assim grandes adversidades que me tenham posto à prova.
Espero, aliás, que não venham a existir grandes adversidades, mas temos grandes desafios.
Neste momento, estamos, por exemplo, a tentar trazer alunos também de fora da Europa.
Estamos a aumentar a nossa internacionalização. Fazer isto em Portugal, num contexto como o atual, é um grande desafio. Este campus foi construído em Portugal num contexto de ainda maior adversidade económica e tudo passa sempre muito por colaboração.
Em Portugal, temos, sinto eu, muita dificuldade em nos sentarmos à mesma mesa, por exemplo, quando temos perspetivas opostas sobre os problemas, e em discutir uma solução para esses problemas.
Eu não vejo, por exemplo em Portugal, muita capacidade de nos sentarmos à mesma mesa, de ouvirmos o outro quando o outro tem opiniões bastante diferentes. Esta capacidade, hoje, é absolutamente essencial.
Estamos a viver duas guerras e o que fica bastante claro é que nós, e isto não é só em Portugal, obviamente, temos uma enorme incapacidade de ouvir os outros, de perceber a perspetiva dos outros.
Estamos completamente bipolarizados ou, mais do que isso até, fechamo-nos nas nossas trincheiras e temos muita dificuldade em comunicar. Isso, para gerir uma organização como esta, é absolutamente essencial.
Ser capaz de sair da trincheira para perceber a perspetiva dos outros e depois colaborar. Este campus não existia se não tivesse havido até hoje muita capacidade de colaborar com os alunos, com os antigos alunos, com os professores, com as empresas, com as organizações públicas, porque somos uma escola pública, e essa capacidade é absolutamente essencial.
Na minha prática aqui na Nova, espero dar uma modesta contribuição para esta importante capacidade de falar com os outros, mesmo quando eles têm perspetivas bastante diferentes das nossas.

Portugal 2043: “Mais paz no país e na Europa”

Como é que gostarias que Portugal estivesse dentro de 20 anos, quando celebrar 900 anos como Estado-nação mais antigo da Europa?
PO — É uma ótima pergunta. Espero que Portugal e a Europa sejam um sítio de paz daqui a 20 anos. Espero que usemos muito esta capacidade de diálogo, de ouvir as pessoas que têm religiões e culturas diferentes das nossas, para construir algo em conjunto. Esse vai ser o nosso maior desafio. Isso vai sem dúvida influenciar muito o nosso estilo de vida e o nosso nível de vida também.
Espero que, em Portugal, haja muitas entidades e universidades que, à semelhança de nós, se me permitem a imodéstia, se consigam afirmar internacionalmente.
Hoje, temos uma situação em Portugal, no que respeita a escolas de negócios muito sui generis. Temos nos rankings internacionais várias escolas que se estão a afirmar. Da Católica à Porto Business School, ao ISEG [Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa], até ao ISCTE [Instituto Universitário de Lisboa], em alguns rankings começamos a encontrar um cluster de escolas que, ainda não estão tão bem colocadas como nós, mas que começam a distinguir Portugal como um sítio interessante para estudar. Isto acontece nas áreas da Gestão, da Economia, das Finanças, mas espero que possa acontecer em muitas áreas.
Temos muito talento em Portugal e, se formos capazes de reunir, de discutir, de nos sentarmos à mesma mesa para construir algo que seja maior do que as nossas competições que não nos levam a lado nenhum, podemos começar a firmarmo-nos internacionalmente. É muito importante esta afirmação de algumas universidades; é muito importante para a reputação do país.
Se pensarmos, nós, hoje, estamos a colocar Portugal (e esta escola está a dar uma contribuição muito importante) entre os principais destinos para estudar no mundo. Esse grupo de países restrito inclui Estados Unidos, Inglaterra, França, alguns países do norte da Europa, a Holanda também, mas é, sem dúvida, um grupo de países com quem nós queremos estar. Em termos reputacionais, isso é muito importante.
Obviamente, Portugal é muito conhecido já pelo seu futebol, o que nos traz muita popularidade. Isso é muito importante e todos nós vibramos com os golos do Ronaldo.
Mas, era muito importante, também, que colocássemos algumas universidades, como já estamos a fazer na Economia e Gestão, no topo das listas dos rankings mundiais, porque isso pode ser definitivo para a reputação de Portugal.